“Sempre foi muito mais fácil (porque sempre pareceu mais seguro) dar um nome ao mal externo do que localizar o terror interno. E, contudo, o terror interno é muito mais verdadeiro e muito mais poderoso que qualquer um de nossos rótulos: os rótulos mudam, o terror é constante. E esse terror tem algo a ver com esse fosso irredutível entre o eu que inventamos — o eu que assumimos enquanto seres, que é, contudo, e por definição, um eu provisório — e o eu não detectável, que sempre tem o poder de estilhaçar o eu provisório.”— JAMES BALDWIN, “Nothing Personal”,…
Autor: Romulo Silva
“A Utopia não é o sonho. É o que nos falta no mundo.Eis o que ela é: aquilo que nos falta no mundo”Édouard Glissant,“O Pensamento do Tremor. La cohée du lamentin”, 2014. “Você pode me riscar da HistóriaCom mentiras lançadas ao ar.Pode me jogar contra o chão de terra,Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.[…]Da favela, da humilhação imposta pela corEu me levantoDe um passado enraizado na dorEu me levantoSou um oceano negro, profundo na fé,Crescendo e expandindo-se como a maré. Deixando para trás noites de terror e atrocidadeEu me levantoEm direção a um novo dia de…
“As pessoas que fecham os olhos para a realidade simplesmente estão pedindo pela própria destruição, e qualquer um que insista em permanecer em estado de inocência tanto tempo depois da morte da inocência acaba sendo um monstro.”(James Baldwin, “O estranho no vilarejo”, Harper’s Magazine, 1953) […] uma casinha branca lá no alto da montanhaE eu perguntando: ‘quem mora lá? Quem mora lá?’Um homem na BR olhando pro nadaUma mulher com um saco de capim na cabeçaE o sol estralando nas suas costasE os políticos dando as costas.”(Miró da Muribeca, poema “Janela de ônibus”). O controle político acontece por meio de…
“Nós desconfiamos do entusiasmo. […] O entusiasmo é, por excelência, a arma dos impotentes. Daqueles que esquentam o ferro para malhá-lo imediatamente. Nós pretendemos aquecer a carcaça do homem e deixá-lo livre. Talvez assim cheguemos a este resultado:o Homem mantendo o fogo por autocombustão.”(Frantz Fanon, Pele Negra, Máscaras Brancas, [1952] 2008) Como ser um eu mesmo sem sufocar o outro e como abrir-se ao outro sem asfixiar o eu mesmo? Encarada como a questão capital na contemporaneidade, a pergunta do poeta e filósofo martinicano Édouard Glissant (1928-2011) é ao mesmo tempo um convite a sairmos dos confinamentos que nos foram…