Maior editora em atividade no Brasil, a Companhia das Letras anunciou nesta sexta-feira (17/7) que publicará livros de Carolina Maria de Jesus. O trabalho se chamará “Cadernos de Carolina” e vai reunir diários da escritora, sendo coordenado por Conceição Evaristo e Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina.
Segundo a Companhia das Letras, a ideia é buscar a integridade dos manuscritos originais. O primeiro título da série será “Casa de Alvenaria”. Obras já conhecidas da autora, como “Quarto de Despejo” e “Diário de Bitita” não integram o projeto.
“Casa de Alvenaria” retoma um título de 1961, mas a edição será completamente refeita e ampliada. “A ideia é que o leitor tenha um registro detalhado e completo da experiência de Carolina após se mudar para o bairro de Santana, e de sua luta pelo reconhecimento como escritora”, adianta a editora.
Agora consagrada como “uma das maiores autoras brasileiras de todos os tempos”, como a Companhia das Letras definiu, Carolina Maria de Jesus passou décadas no anonimato. Teve obras tachadas de “não literatura” pela autointitulada elite intelectual brasileira (branca, por óbvio).
Sessenta anos após o lançamento de “Quarto de Despejo”, inegavelmente o título mais conhecido dela, com inserção inclusive em outros países, a autora ingressa na maior casa editorial brasileira num projeto que terá escritos memorialísticos, romances, poesia, música, teatro e narrativas curtas, entre outros gêneros.
“A editora recuperará os textos de Carolina a partir dos cadernos originais, espalhados por diversos acervos pelo Brasil. Esta iniciativa é um desejo de restituir a voz autêntica dessa grande escritora, trazendo ao público seu projeto literário por completo. É ainda um esforço de reparar a rejeição e estigmatização que Carolina por décadas sofreu dos círculos literários, fruto de um racismo estrutural que lhe negava a presença nesses espaços”, sublinha a Companhia das Letras.
QUEM FOI CAROLINA MARIA DE JESUS?
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914, mas viveu a maior parte da vida em São Paulo. Em cadernos que encontrava no lixo, reaproveitava ou adquiria com grande dificuldade, deixou uma extensa produção literária. Alcançou o sucesso com o livro Quarto de despejo: Diário de uma favelada (1960), organizado pelo jornalista Audálio Dantas, mas muitos de seus escritos permanecem inéditos ou fora de circulação há décadas.
Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.