O Ceará Criolo inicia nesta terça-feira (14/7) um mapeamento colaborativo de profissionais para compor um Guia de Fontes Negras do Ceará. A lista on-line será disponibilizada gratuitamente a produtoras(es) de conteúdo com o objetivo de trazer mais diversidade às narrativas jornalísticas.
A iniciativa nasce do entendimento de que majoritariamente os especialistas ouvidos em pautas são homens, brancos e cisheterossexuais. Pessoas negras quase sempre surgem somente como personagens de pautas policiais ou, quando entrevistadas na condição de especialistas, o material restringe-se ao tema de racismo ou a efemérides com recorte racial – como o 13 de maio e o 20 de novembro, por exemplo, dias da Abolição e da Consciência Negra, respectivamente.
“Isso faz com que as pessoas associem o negro à violência, à pobreza, à morte, à sexualidade, ao que é ruim e negativo. Porque é só nesse tipo de pauta que a gente está. Desconstruir esse mito e retratar o homem negro e a mulher negra como capazes de comentar assuntos para além desses estereótipos passa muito fortemente pelas empresas de comunicação. Nós precisamos normalizar a presença de negros e negras como pessoas que pensam”, sintetiza um dos fundadores do Ceará Criolo, jornalista Bruno de Castro.
A proposta do Guia de Fontes Negras do Ceará é inspirada em iniciativa similar intitulada Jornalismo Antirracista, das jornalistas Luísa Roig Martins e Marília Marasciulo, que cataloga nomes nacionalmente. A regionalização da demanda visa facilitar a visibilidade de profissionais e iniciativas locais, fazendo frente à predominância do recorte geográfico do eixo sul/sudeste nas matérias jornalísticas.
Trata-se do primeiro mapeamento colaborativo de profissionais negros no Ceará com o intuito de estimular nas empresas de comunicação a abertura de mais espaços positivos à população negra. É também o primeiro produto externo do Ceará Criolo.
“Esse será um material em permanente construção. Pedimos a ajuda de todos para fazê-lo seguir crescendo e sendo utilizado pelos profissionais de comunicação. É possível fazer uma comunicação antirracista e esperamos que o Guia seja de grande ajuda”, pontua o também fundador do Ceará Criolo e jornalista Rafael Ayala.
Para fazer parte do guia, o profissional deve preencher um formulário (preencha aqui) simples. O documento solicita informações básicas como nome, formação acadêmica e temas que pode comentar. Para ter acesso aos contatos, o/a jornalista ou produtor(a) de conteúdo deve solicitar a lista formalmente ao Ceará Criolo – por e-mail, Whatsapp da equipe, redes sociais oficiais do coletivo ou seção Contato do portal.
“Há, no mercado cearense, profissionais negros e negras muito competentes em diversas áreas. Esse guia permite que o jornalista ganhe tanto na diversidade quanto na qualidade das fontes. E com a vantagem de que elas estão interessadas em colaborar, já que o cadastro é voluntário”, ressalta a também fundadora do Ceará Criolo, publicitária Rayana Vasconcelos.
O Guia de Fontes Negras do Ceará não será disponibilizado publicamente em nenhuma plataforma (já que terá contatos pessoais das fontes) nem encaminhado a veículo que se valha da prática de fake news, seja ele de qualquer natureza (televisão, rádio, site, mídias digitais etc).
“É fundamental pluralizar as vozes que compõem a práxis jornalística, entendendo a comunicação como um direito humano universal. O Jornalismo, enquanto um ofício que deve atender aos interesses civis, precisa comprometer-se em garantir maior representatividade e diversidade. A comunicação é um meio não apenas de livre expressão individual, mas sobretudo de luta e conquista de espaço. Nossa iniciativa busca exatamente este objetivo: disputar as narrativas hegemonicamente estabelecidas a fim de visibilizar e bem representar a população negra em toda sua complexidade e multiplicidade”, acrescenta a fundadora do Ceará Criolo, publicitária Jéssica Carneiro.
POVO NEGRO NO CEARÁ
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará tem 71% da população autodeclarada negra. Ou seja: pessoas que se dizem pretas (5,29%) ou pardas (65,71%). No Brasil, os negros autodeclarados são 55,8% – sendo 46,5% pardos e 9,3% pretos.
O formulário

O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.