
Mulheres, mães, pretas e faveladas que enxergam na fotografia uma arma de combate, um instrumento de luta e denúncia com a realidade desigual vivida. Criado em 2017, o coletivo As Carolinas homenageia a escritora negra Carolina Maria de Jesus (1914-1977). A decisão de criar um coletivo feminino de fotografia veio a partir da atuação de Nega Ana, Bruna Késsia e Jéssica Alves na Zona Imaginária, um coletivo de fotografia e artes visuais fundado em 2013, no Rio de Janeiro, pelos fotógrafos Mauricio Hora e Cristiano Magalhães.
“Por ser mulher e pelas especificidades que temos e vivemos, sentimos a necessidade de criar um coletivo inteiramente feminino e feminista de fotografia e então convidamos outras mulheres para fazer parte da fundação deste processo conosco. É importante enfatizar a realidade marginal e periférica das mulheres que compõem As Carolinas, pois isso diz muito sobre o que de fato é o nosso projeto. E quando digo isso é que o ser periférico e marginal interfere diretamente nas nossas vidas como na frequência e existência de atividades realizadas por nós”, explica Jéssica Alves.

De acordo com uma das fundadoras, muitas vezes é preciso mudar os planos de alguma atividade devido ao filho de uma das participantes ficar doente ou a fotógrafa da atividade estar sem o dinheiro da passagem, resolvido com a ajuda das demais. Ou, em alguns casos, porque é preciso escolher entre procurar emprego ou ir pra alguma atividade.
Atividades
Junto com a mobilização das mulheres da ONG/MovimentoLuta Feminina pela Emancipação da Mulher Explorada (La-FEME), o coletivo realizou a exposição fotográfica “Du Lixo”, dentro do evento Batalha 8 de Março-#B8M, no Teatro José de Alencar em março de 2018. A exposição ficou montada na sede da La-FEME, no Quintino Cunha, até agosto deste ano. Foram realizadas exposições itinerantes em vários bairros da cidade, rodas de conversa, oficinas, distribuição de zines, formações, mostras e eventos inteiramente femininos levando a ótica e a realidade favelada e marginal, colocando a mulher favelada como protagonista.

O coletivo As Carolinas é aberto para novas integrantes e atualmente é composto por sete mulheres. A maioria não conta com equipamento próprio e, por isso, conta com a solidariedade de companheiras e até mesmo de outros coletivos. “As Carolinas é uma oportunidade de realizar a prática da comunicação e isso tem suas dificuldades e cobranças pelo fato de ser mulher. Colocando na realidade da fotografia, um homem na mesma condição de aprendiz que uma mulher, ele terá muito mais ‘coragem’ de errar do que nós, devido a toda a rede de proteção histórica da sociedade para um homem”, comenta Jéssica.
As dificuldades e o olhar da mulher periférica
Para uma das fundadoras do coletivo, a necessidade de projetos inteiramente femininos é cada vez mais real, uma forma de compensação histórica. Além de colocarem o olho e a vivência em cada registo, as integrantes querem colocar a mulher periférica e a periferia fora da situação de “coitado”. “Nós somos e precisamos ser responsáveis pelo nosso próprio protagonismo e dentro dessa realidade encontramos uma boa receptividade, sobretudo de mulheres”, destaca.
Porém, informa, essa receptividade não encontra eco na realidade. “Mesmo com todo esse clamor popular, quantas mulheres foram efetivamente eleitas no campo progressista nessas eleições de 2018 aqui no Ceará? Qual o gênero e a cor da pele dessas pessoas que foram eleitas? Qual dos eleitos nasceu ou viveu em uma comunidade de favela? Então, vemos que tem muito caminho ainda pela frente, até que o discurso vire uma prática, uma realidade”, afirma.
O trabalho do coletivo As Carolinas pode ser acompanhado por meio de sua página no Facebook e no Instagram.

Jornalista. Alma de cronista, coração de poeta. Tem experiência em Assessoria de Comunicação. Apaixonado por futebol, boas histórias e fim de tarde.