Congos, sambas, coroações, resistência e sociabilidade. Uma vida pulsante, ativa, de luta. A realidade do povo negro em Fortaleza no século XIX, ainda em tempos de escravidão, não se resumia apenas ao trabalho braçal e de exploração.
Conversamos com o professor e historiador Hilário Ferreira para nos apontar lugares da capital cearense repletos de histórias de luta, resistência e manifestações culturais de matriz africana, ou afrocearense, como aponta o historiador. Confira:
Avenida do Imperador, próximo à Praça da Estação: presença de sambas de umbigada.
Bairro Damas: sambas de umbigada.
“Você tinha durante todo o século XIX, do ponto de vista cultural, o samba de umbigada, o que no Maranhão ainda hoje se chama Tambor de crioula. Tinha encontro de sambas na avenida Imperador, no bairro Damas e em Sobral. Outra manifestação cultural desses povos era a festa do Congo, a burrinha, o bumba meu boi. Com o tempo, a festa do Congo vai se reelaborando e nasce o maracatu”, explica o professor e historiador em entrevista concedida ao Governo do Ceará.
Rua da Boa Vista (atual Rua Floriano Peixoto), no trecho compreendido entre a Praça do Ferreira e a Rua de São Bernardo (atual Rua Pedro Pereira): Festa do Congo.
Rua Senador Pompeu: Congos. Os congos sob a direção de Joaquim Xavier se apresentavam no primeiro quarteirão da Rua Senador Pompeu e, às vezes, na Rua da Boa Vista, entre a Praça do Ferreira e a Rua de São Bernardo.
“As apresentações dos autos de rei congo buscavam ocupar locais mais centrais de Fortaleza, o que constituía um outro tipo de desafio para esses sujeitos, pois essas áreas mais privilegiadas da cidade era onde estavam edificações públicas e privadas (Passeio Público, Cadeia, Sede do Governo, Clubes Iracema e Cearense) que, de certa forma, simbolizavam a repressão e o preconceito contra as ‘encenações populares’. Por outro lado, era justamente isso que tornava mais intensa a ‘conquista’ do espaço por causa da festa”, destaca Janote Pires Marques no livro Festas de negros em Fortaleza: territórios, sociabilidades e reelaboraçőes (1871-1900).
Praça dos Leões: a Festa do Congo saía da Igreja do Rosário e caminhava em cortejo até a Igreja do Carmo. “Eram espaços onde a memória coletiva africana era constantemente lembrada e realimentada. Portanto, esses espaços eram lugares de fortalecimento da identidade étnica. E, como pode-se ver, eram momentos vivenciados em público”, destaca o professor Hilário Ferreira.
Casarões no bairro Jacarecanga: eram usados como galpões para armazenar os cativos e proporcionar um breve descanso aos escravizados, pois estes vinham do Interior caminhando. Depois, eram levados para a Praia do Peixe (atual Praia de Iracema) e embarcavam nas jangadas até os barcos, que ficavam distantes por causa dos bancos de areia. Estes barcos ou navios vinham recolhendo os cativos desde o Pará, parando em cada capital no litoral nordestino para recolher os cativos que seriam e foram vendidos para a região Sudeste, em especial para o Rio de Janeiro, e ali serem direcionados para as fazendas de café.
Passeio Público: a partir da abolição da escravatura, passou a ser frequentado pelos negros de Fortaleza.
Praia do Peixe (atual Praia de Iracema): lugar onde os escravizados eram colocados para serem embarcados em jangadas, em direção aos barcos e, dali, partirem em direção ao Rio de Janeiro.
Dicas de leitura:
Festas de negros em Fortaleza: territórios, sociabilidades e reelaboraçőes (1871-1900), de Janote Pires Marques.
“Catirina, minha Nêga, Tão Querendo te Vendê…”: escravidão, tráfico e negócios no Ceará do século XIX (1850 – 1881), de José Hilário Ferreira Sobrinho.
Crédito da imagem de capa: Mayra Pavanello Munerato, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons.
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Jornalista. Alma de cronista, coração de poeta. Tem experiência em Assessoria de Comunicação. Apaixonado por futebol, boas histórias e fim de tarde.