Sim, é verdade que todos estamos sujeitos ao COVID-19. O vírus não escolhe cor, gênero e nem classe social. Os seres humanos se encarregam de fazer essa seleção. Estamos no mesmo barco, mas, definitivamente, nem todos desfrutam dos mesmos privilégios. Uns estão no convés, outros, no porão. Empatia e sororidade são exemplos de termos que estão pipocando nas conversas e redes sociais, mas precisamos analisar se nossas atitudes estão de acordo com nosso discurso socialmente responsável.
Seguir todas as recomendações das autoridades de saúde é um privilégio que boa parte da população não tem. Vários bairros periféricos são desabastecidos de água e saneamento básico. Há quem não tenha dinheiro para comprar sabão, muito menos álcool gel. Pessoas em situação de rua são ainda mais vulneráveis e o Coronavírus veio para escancarar ainda mais essa realidade.
A branquitude vai para as redes sociais “conscientizar” a população a respeito da importância do isolamento, mas não dispensa seus motoristas, domésticas e funcionários do trabalho. Já temos casos de colaboradores infectados por seus patrões e é assim que o vírus tem chegado à periferia. E nós sabemos qual é a cor da maioria da população desassistida.
A miopia da elite branca é histórica. Repete a fórmula colonial porque, para eles, nós não somos gente. Somos massa de manobra que deve estar a serviço enquanto eles acreditam estarem a salvo, nos fazendo circular por aí para atendê-los. Andam até espalhando que as pessoas pretas não pegam o Coronavírus. O ator Idris Elba chegou a fazer um vídeo pedindo que o povo preto não acredite nessa mentira. Mas o que esperar de um sistema onde as mulheres negras recebem menos anestesia no parto porque, segundo dizem, elas sentem menos dor que as mulheres brancas?
E, no âmbito governamental, estamos vendo um presidente que vai na contramão dos demais países e age com imaturidade e irresponsabilidade. Qual família se alimenta com 200 reais por mês? O corte de 158.452 benefícios do Bolsa Família, 96.000 só no Nordeste, expõe o descaso com os que deveriam ser prioridade nesse momento de calamidade. A Medida Provisória aprovada e já revogada, autorizando suspensão de salários, mostra que esse governo não está a serviço do povo, e sim, contra ele.
Precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance. Compremos no mercadinho do bairro. Dispensemos funcionários e asseguremos seus salários, pressionemos para que os vizinhos e os empresários façam o mesmo. Façamos o “black money” circular entre os nossos. Apoiemos iniciativas que assistem às pessoas que o poder público ignora.
Fiquemos em casa, se possível. Saiamos da nossa bolha, por favor.

Publicitária. Movida por decibéis, apegada ao escurinho do cinema e trilha o aprendizado de ser uma mulher preta. Trabalhou em agências de Fortaleza e Salvador ao longo de 10 anos. Hoje responde pela Mídia na Set Comunicação, house da Educadora 7 de Setembro.