Quantas(os) autoras(es) negras(os) você já leu? Ou melhor: quantos autores(as) você leu e sabe que eram/são negros(as)? Tem nome importante da literatura brasileira que é preto e muita gente nem imagina. Pra você, leitor do Ceará Criolo, não ser parte dessa estatística, a gente apresenta alguns desses escritores.
A lista é composta de dez autores e tem como base estudos do Grupo Interinstitucional de Pesquisa Afrodescendências na Literatura Brasileira, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade (Neia) da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Maria Firmina dos Reis (1822-1917)
A primeira mulher negra a publicar um livro no Brasil. Nasceu no Maranhão e ficou órfã aos cinco anos. Era presença constante na imprensa local com poesias, ficções, crônicas, enigmas e charadas. Formou-se professora, chegando a conquistar o título de Mestra-Régia. Ficou conhecida com a obra Úrsula, que denuncia as condições das mulheres e dos negros no século XIX em uma sociedade na qual imperavam teorias de superioridade racial e preconceito. Publicou depois A escrava, Cantos à beira-mar e Gupeva.
Lima Barreto (1881-1922)
Afonso Henriques de Lima Barreto é filho de ex-escravos. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1881. Morador do subúrbio, estudou na Escola Politécnica da capital e era o único negro da instituição. É considerado por Octávio Ianni um dos fundadores da literatura afro-brasileira. Após a morte da mãe e do estado de saúde precário do pai, ele desistiu do curso de Engenharia para trabalhar. Em 1902, tornou-se funcionário público da Secretaria de Guerra e pode, enfim, dedicar-se à literatura. As principais obras dele são: Triste fim De Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos.

Machado de Assis (1839-1908)
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Rio de Janeiro. Perdeu a mãe ainda criança, mas desenvolveu uma boa relação com a madrasta, sendo ela a primeira professora dele. Porém, nunca teve uma educação contínua. Na adolescência, estudou francês na casa de uma família estrangeira. O contato com a literatura clássica só ocorreu quando Machado foi trabalhar na livraria Paula Brito. Seu primeiro livro foi Crisálidas, um conjunto de poesias, em 1864. Fundou a Academia Brasileira de Letras em 1886, da qual foi o primeiro presidente. Suas publicações mais famosas são: Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.

Ruth Guimarães (1920-2014)
Nasceu em 1920, em São Paulo. Além de escritora, foi jornalista, teatróloga, tradutora e pesquisadora da Literatura Oral no Brasil. Ainda menina publicava poemas nos jornais locais A Região e a Notícia. Tinha uma seção permanente dedicada à literatura na Revista do Globo, de Porto Alegre. Alcançou projeção nacional com o romance Água Funda, em 1946, sendo aclamada pela crítica. A obra se passa no interior de Minas Gerais, onde senhores e sinhás contam “causos”. A pesquisadora teve como mestre Mário de Andrade, quem a despertou para o folclore brasileiro. Contudo, foi apenas a segunda mulher negra a publicar um livro, 87 anos depois de Maria Firmina dos Reis. O último livro publicado dela foi Contos de cidadezinha.

Luiz Gama (1830-1882)
Filho de uma africana livre da Costa da Mina com um fidalgo português, Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830, em Salvador, na Bahia. A mãe teve que deixá-lo com o pai para trabalhar no Rio de Janeiro. Depois de perder a herança que tinha, o pai vende o pequeno Luiz de dez anos como escravo. Gama só aprendeu a ler aos 17 anos com um hóspede da casa onde trabalhava. No ano seguinte, fugiu da residência de seus senhores e conseguiu os documentos que asseguraram sua liberdade por ser filho de uma negra liberta. Em 1856, publicou Primeiras trovas burlescas de Getulino, no qual está o poema “Quem sou eu” – que expõe o racismo no Brasil.

Conceição Evaristo (1946-)
Nasceu em 1946, no estado de Minas Gerais. Foi para o Rio de Janeiro na década de 1970 para cursar Letras, sendo a primeira de sua família a obter um diploma de Ensino Superior. Estreou na literatura nacional nos anos 1990, com contos publicados na revista Cadernos Negros. Publicou o primeiro romance, Ponciá Vicêncio, em 2003. A obra foi bem recebida pelo público e pela crítica, sendo traduzida para o inglês. Em 2007, publicou Becos da Memória, livro que aborda o drama de uma comunidade favelada em processo de remoção. O livro mais recente é Canções para ninar menino grande, lançado em 2018. Além de escritora, é mestre em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada.

Cruz e Sousa (1861-1898)
João da Cruz e Sousa nasceu em 1861, em Santa Catarina. É filho de negros e escravos alforriados. Recebeu sobrenome e educação formal dos antigos senhores dos pais, pois viviam no porão da casa deles. Aprendeu latim, grego e francês. Já aos oito anos, João começou a declamar poemas de autoria própria em homenagem ao retorno de coronel Xavier de Sousa – ex-dono dos pais dele – da Guerra do Paraguai. Aos 20 anos, fundou o jornal Colombo, periódico crítico semanal e com tendência parnasiana. Em 1893, publicou Missais – poemas em prosa – e Broqueis, conjunto de poemas. O destaque como simbolista foi tamanho que Alphonsus de Guimaraens foi ao Rio de Janeiro para conhecê-lo. Suas últimas obras publicadas foram Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos sonetos (1905).

Aline França (1948-)
Filha de um ferreiro contador de histórias, Aline dos Santos França nasceu em Teodoro Sampaio, na Bahia, em 1948. Passou a trabalhar na Universidade da Bahia após ser aprovada em um concurso. Começou a escrever ainda criança, quando trabalhava como agricultora com os pais. Porém, a primeira publicação literária só aconteceu em 1978, com a novela Negão Dony. Em 1982, escreveu “Mensagens dos nossos ancestrais” para o Dicionário de Escritores Baianos. Foi reconhecida pela crítica literária baiana com a obra A mulher de Aleduma, lançada em 1985. Esse livro gerou repercussão internacional e a escritora foi entrevistada por jornalistas da Nigéria, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Holanda e do Brasil. A última publicação dela foi Os Estandartes, em 1993.

Esmeralda Ribeiro (1958-)
Militante e jornalista nascida em São Paulo, em 1958. Faz parte da Geração Quilombhoje, que atua na construção de uma literatura negra e no combate ao racismo por meio do resgate das tradições africanas e afro-brasileiras. A primeira publicação foi o conjunto de contos Malungos e Milongas, em 1988, para o centenário da Abolição. “Orukomi – meu nome” foi o livro mais recente, lançado em 2007. Hoje, dirige o projeto cultural Quilombhoje com Márcio Barbosa e faz parte da coordenação editorial da série Cadernos Negros.

Lívia Natália (1979- )
Nasceu em Salvador, na Bahia, em 1979. Filha de Osun, o candomblé de fundamento Ketu é um dos principais temas de suas obras, além do corpo, cabelo e outros signos étnico-raciais que perpassam a mulher negra. Água Negra foi o livro de estreia e vencedor do Concurso Literário do Banco Capital de 2011, na categoria Poesia. A publicação mais recente foi As férias fantásticas de Lili, em 2018. Lívia também é mestre e doutora em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É atualmente professora-adjunta do setor de Teoria da Literatura da UFBA, onde coordena os grupos de pesquisa Derivas da Subjetividade na Escrita Contemporânea, no qual pesquisa literatura contemporânea escrita em Blogs e Corpus Dissidente.


Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, foi repórter no Grupo de Comunicação O Povo. Comentarista do programa Último Tempo, na webrádio Cruzamento da turma da UFC de 2017.2. É formada em balé clássico pela Escola de Ballet Janne Ruth. Gosta de ficção científica, um bom romance clichê e é apaixonada por futebol, super-heróis e arte.
3 comentários
Conteúdo mais do que necessário. Sou negro, de periferia e não conhecia 90% desses autores… muito obgd!
Excelente representatividade! Não conhecia muitos da lista! Pesquisando agora sobre os mesmos e comprando um exemplar de suas obras e, divulgando em minhas redes sociais esses autores! Gratidão por trazer a realidade autores negros, que fazem parte da literatura do Brasil, escondida devido ao racismo estrutural neste país!
Olá! Acho que faltou a menção à Carolina Maria de Jesus para enriquecer ainda mais esse material. Parabéns!