Tudo o que a gente conhece – da filosofia ao k-pop, das pirâmides do Egito a um prato de comida, de um grão de areia até todo conhecimento já produzido pela humanidade – equivale, aproximadamente, a 4% de tudo que existe no universo. O 96% restante é composto por matéria e energia escura, ou seja: temos mais coisas por conhecer do que tudo que já conhecemos ao longo da história. Partindo dessa premissa, Emicida e Evandro Fióti desenvolveram uma série documental intitulada “O Enigma da Energia Escura”, que estreia nesta quarta-feira (18/8), no GNT, às 23h30, e também estará disponível no GloboPlay.
“Acho a metáfora do título da série fascinante. A ilusão de conhecimento é, na verdade, a maior inimiga dele. A falsa sensação de que já sabemos tudo nos deixa estagnados, presos; assim ficamos impossibilitados de avançar“, comenta Emicida, que também é apresentador do programa.
Cada episódio será apresentado por Emicida de uma cabine espacial, em uma galáxia distante que faz alusão direta à origem da cultura hip-hop, quando, nas festas de rua do Bronx em Nova York, nos anos 70, os DJs soltavam as músicas e os MCs versavam por cima dos instrumentais. Esta relação se dá devido à revolução que o rap causou no mercado da música, levando autoestima e salvando jovens ao redor do mundo, entre eles o próprio Emicida. Na série, ele vai atrás das suas histórias e, para além da música, convida especialistas, intelectuais, ativistas, artistas e pensadores para buscar reconstruir a história do nosso povo.
Em 2016, por exemplo, uma pesquisa da Ancine revelou que apenas 2,5% de diretores e roteiristas dos filmes produzidos no Brasil eram negros, dados que assustam uma vez que pelo último IBGE é sabido que a população brasileira é formada por 56% de pessoas pretas e pardas.
A curadoria de temáticas foi feita de forma a ir ao cerne de questões fundamentais a serem compreendidas pela população brasileira. Estas temáticas servem de pilares que guiam a mensagem de um dos cinco episódios interdependentes. “Embora a gente parta de problemáticas a respeito da racialização dos seres humanos e das suas consequências na vida comum, não é uma série sobre o racismo. Eu diria que é um convite para que possamos compreender as raízes dessas problemáticas de maneira que possamos dar um destino diferente ao lugar em que vivemos“, complementa Emicida.
A trilha sonora, por sua vez, é conduzida pela estética sonora do rap e da musicalidade afro-diaspórica, que vai de Drik Barbosa, Muzenza e Lazzo Matumbi a Racionais MC’s, Souto MC e Altay Veloso. As imagens de arquivos utilizadas contam com diversos acervos importantes responsáveis por guardar a memória da população negra brasileira – tais como a CultNe e Zumvi. Os episódios são construídos com esses elementos narrativos enquanto também acolhe grandes reflexões de pensadores como o professor e economista Helio Santos; a compositora e artista Margareth Menezes; a psicóloga e pesquisadora em branquitude Lia Vainer; a professora de direito constitucional Thula Pires; a professora da UFF e Pesquisadora do Afro Flavia Rios; a rapper trans Winnit, entre outros.
Inaugurando um novo olhar sobre as temáticas negras na televisão brasileira, a série busca contribuir para construção de uma visão de sociedade mais coletiva, inclusiva, que represente a maioria da população do país e que, sobretudo, comece a romper com os pactos estruturais e institucionais que vem – há séculos – contribuindo com o apagamento e o extermínio da população negra e indígena, fazendo um país economicamente rico como o Brasil ser também um dos mais violentos e desiguais do mundo.
“O Enigma da Energia Escura”
Estreia: Quarta, dia 18 de agosto, às 23h30 Exibição: Quartas, às 23h30
O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.