“O futuro pertence àqueles que se preparam hoje para ele.”
Malcolm X, um dos defensores do nacionalismo
negro nos Estados Unidos.
As Instituições de Ensino Superior (IES) no Ceará contam com organizações para combater o racismo, fortalecer e valorizar as raízes africanas e empoderar docentes e discentes negros. Possuem denominações diferentes em cada IES, mas todos são legítimos espaços de resistência, luta e afirmação da participação da população negra no Ensino Superior.
Profissionais diversos fazem parte desses grupos, numa união entre experiência e juventude para a obtenção de bons resultados no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. Em Fortaleza e no interior do Ceará, professores e alunos estão dando o seu melhor. E bons frutos estão sendo colhidos.
OS NEABIS DO IFCE
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) conta com Núcleos de Estudos e Pesquisas Afro-Brasileiras e Indígenas (Neabi) em seus diversos campi. De acordo com o Departamento de Extensão Social e Cultural da Pró-reitoria de Extensão (Proext) da entidade, atualmente existem núcleos em 24 unidades do IFCE.
A Proext conta com um trabalho permanente de assessoramento e orientação junto aos campi, informa o IFCE, além de reuniões técnicas e encontros dos núcleos para fortalecer essa política e estimular o processo de criação de novas unidades. No Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Proext consta o objetivo de contar com um Neabi em todos os campi do IFCE até 2023.
Embora criado em 2015, o Neabi do campus de Fortaleza passou por um período sem atividades e foi reativado em agosto de 2018. Nesse período, os participantes pautaram as atividades no fortalecimento do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão.
“Sempre vinculando nossas ações no combate contra o racismo e seus diversos desdobramentos. Os desafios postos para além dos externos relacionam-se a correlacionar as áreas do IFCE à pauta étnico-racial, bem como romper com a lógica do racismo estrutural da sociedade. O início desse processo foi desafiador tanto pelo estranhamento ligado às ações do Neabi nesses espaços institucionais quanto por adentrarmos na discussão que, para o Campus Fortaleza, era nova. Transversalizar esse debate tem sido desafiador realmente”, destaca a coordenadora, professora Anna Érika Ferreira Lima.
As atividades buscam, principalmente, o combate ao racismo. Entretanto, trabalham discussões como cultura alimentar, soberania alimentar, segurança alimentar, patrimônio cultural, museologia e regularização fundiária urbana. Os temas diversos mostram a preocupação em transversalizar a questão étnico-racial, pautando atividades junto a comunidades tradicionais ou grupos sociais em situação de vulnerabilidade.
“Vale destacar que, quando chegamos junto às comunidades, isso ocorre por meio de demandas junto ao Neabi. A partir daí iniciamos as construções de projetos para somente após a aprovação das comunidades darmos sequência. Então, essas seriam as ações de pesquisa. Em extensão, temos organizado oficinas sobre empoderamento negro, feminismo negro, turbantes, maquiagem afro, contação de histórias; além da organização da exposição Cara Negra do IFCE”, explica a coordenadora.
No próximo semestre, terá início o projeto “Feminismo Negro”, com mulheres de terreiro na Barra do Ceará, periferia de Fortaleza. O Neabi também conta com projetos aprovados pelo Ministério da Saúde, trabalhando com agroecologia e saúde para população do campo, das florestas e das águas na Aldeia Pitaguary; e também pelo CNPq, que consiste no Edital Nexus, no município de Forquilha, e agora com a Universidade de Bath, no Reino Unido, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal do Ceará (UFC) em Icapuí.

Segundo Anna Érika, as atividades do Neabi os têm desafiado a trabalhar a diversidade em suas diversas nuances. “Pensando nos espaços nos quais historicamente se institucionalizou uma lógica tecnológica que só considera um tipo de saber preponderantemente eurocentrado, afirmo que o protagonismo do Neabi que tem ocupado o lugar devido no IFCE tem diversos significados, dentre eles o fato de os estudantes negros, indígenas e demais grupos sociais que sempre estiveram invisibilizados e mesmo se encontravam nos bancos escolares de forma apática, por meio das oportunidades proporcionadas por meio do reconhecimento e pertencimento através da elevação autoestima e dos projetos desenvolvidos, tem levado ao surgimento de seus potenciais intelectuais, sociais, políticos e culturais”, destaca.
TEXTO DE RAFAEL AYALA.

Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.