No Dia Internacional contra a Discriminação Racial, o Instituto Serrapilheira e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) abrem as inscrições para a chamada pública exclusiva para cientistas negros e indígenas. Focada em ecologia, a iniciativa pretende ampliar na ciência a representatividade dessa parcela da população.
As inscrições ficarão abertas até 24 de abril. No total, serão disponibilizados até R$ 10,2 milhões para o pagamento de bolsas e investimentos em pesquisas. As inscrições e o edital podem ser acessados neste link.
Poderão participar da chamada pessoas que se identifiquem como parte da população negra ou indígena. Os candidatos selecionados vão integrar grupos de pesquisa do estado do Rio de Janeiro nos quais não tenham nem se formado nem atuado antes. Os pesquisadores, que trabalharão como pós-doutorandos, podem vir de instituições, cidades, estados ou mesmo de países diferentes. A intenção é estimular o intercâmbio entre pesquisadores.
“Queremos fazer circular ideias novas e fomentar a diversidade entre grupos de pesquisa, ajudando a quebrar um pouco a perpetuação de linhas de pensamento que sabemos que existem no ambiente acadêmico”, afirma Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira.
O foco do edital são jovens cientistas que tenham concluído o doutorado em qualquer área do conhecimento científico, entre 1º de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2022 — prazo estendido em até dois anos para mulheres com filhos. Eles terão que apresentar um projeto no campo da ecologia e indicar o grupo de pesquisa do Rio de Janeiro que irão integrar.
“Os candidatos devem buscar a inserção em grupos de pesquisa, departamentos e instituições diferentes daquelas em que iniciaram suas trajetórias na ciência. Queremos que esses grupos se nutram de novas perguntas, levantadas sobretudo por cientistas negros e indígenas”, explica Caldas.
Com a iniciativa, as instituições querem promover novas linhas de pesquisa em ecologia formuladas por pós-doutores negros e indígenas que almejam obter, no médio prazo, posições permanentes. Os oito candidatos selecionados receberão da Faperj bolsa mensal de R$ 8 mil, além de até R$ 700 mil para o financiamento da pesquisa durante três anos, renováveis por mais dois anos. Já o Instituto Serrapilheira vai destinar R$ 100 mil para cada proposta, sendo que parte desses recursos deverá ser usada na formação de pessoas de grupos sub-representados nas equipes de pesquisa.
Com o Brasil retornando às discussões globais sobre a crise climática, o Instituto Serrapilheira considera que a ecologia tropical deve ser um dos eixos estratégicos a guiar os investimentos em ciência no país. “Precisamos desenvolver o potencial enorme de liderança do Brasil em combater a crise climática e a devastação de biomas, tornando o país um hub global de cientistas do clima e da biodiversidade”, ressalta Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Serrapilheira.
“Ao nos juntarmos ao Instituto Serrapilheira nessa empreitada de fomentar a pesquisa em um campo como a ecologia, que está sob os holofotes do mundo e tem sido tão maltratada em nosso país, acreditamos que estamos cumprindo nosso papel para as futuras gerações. E quando direcionamos este edital para jovens talentosos negros e indígenas, acreditamos que estamos resgatando nossas dívidas com o passado. Esperamos que os resultados sejam surpreendentes, aliando grupos diversos e trazendo contribuições criativas”, afirma Jerson Lima Silva, presidente da Faperj.
A seleção acontecerá em duas etapas, conduzida por cientistas que atuam em instituições internacionais de excelência. O resultado final será divulgado no dia 28 de setembro.
Sobre o Serrapilheira
Criado em 2017, o Instituto Serrapilheira é a primeira instituição privada, sem fins lucrativos, de fomento à ciência e à divulgação científica no Brasil. Já apoiou mais de 200 projetos nessas duas áreas, com mais de R$ 60 milhões. Em 2021, lançou a Formação em Biologia e Ecologia Quantitativas (atualmente Formação em Ecologia Quantitativa), primeiro programa do instituto voltado a estudantes que estão nas etapas prévias ao doutorado.
Sobre a Faperj
Criada em 1980, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) consagrou-se, ao completar 42 anos em 2022, como a agência de fomento à ciência, à tecnologia e à inovação do Estado do Rio de Janeiro. Vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Faperj visa estimular atividades nas áreas científica, tecnológica e do empreendedorismo e apoiar de maneira ampla projetos e programas de instituições acadêmicas e de pesquisa, além de empresas públicas e privadas, sediadas no Estado do Rio de Janeiro. Isso é feito por meio de concessão de bolsas e auxílios a pesquisadores, instituições e empreendedores com visão de inovação, previstos no programa básico e nos editais para concessão de bolsas e auxílios.
O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.