Datado de 1998, o Manual de Direitos Humanos da Polícia Militar de São Paulo está passando por um processo de revisão cujo protagonista é um homem negro que pretende “contribuir para a desestruturação do racismo estrutural”. A corporação é a maior do tipo no Brasil.
Comandante do 11º Batalhão da PM, que atua na área dos Jardins/Consolação, região central da capital paulista, o tenente-coronel Evanilson Corrêa de Souza tem 50 anos e diz que “não vamos mais tolerar discriminações de forma alguma.”
A revisão do Manual iniciou em 2014. A previsão é de que seja, enfim, concluída no primeiro semestre de 2021. Ao portal G1, o militar afirmou:
“É importante mostrar para as pessoas que o racismo existe, que não é exagero, não é só um costume, uma brincadeira, um jeito. Porque é cultural e tradicional dessa forma (de discriminação). É um racismo estrutural da sociedade que se arrasta até os dias de hoje.”
Segundo Evanilson, a nova versão do Manual deve proporcionar reflexões aos policiais paulistas para que a categoria se conscientize de que o racismo existe, determina relações e que atos discriminatórios podem ser identificados dentro e fora da corporação para que possam ser corrigidos.
“O racismo está enraizado nas pessoas historicamente e culturalmente e elas não percebem isso. Nós temos, sim, uma sociedade que traz uma bagagem de diferenciação total do negro, resultado de mais de 350 anos de escravidão e da forma como o negro sempre foi subjugado. Nas novelas, por exemplo, se via negros em posições inferiores, com profissões inferiores. Tudo isso foi moldando o pensamento social. Isso é o racismo estrutural, uma forma perversa de discriminação. Porque você já tem uma leitura de que o negro faz parte de um universo inferior e de violência”, afirma o tenente-coronel.
Além de revisar o Manual, a PM de São Paulo vai elaborar uma cartilha de bolso, ilustrada, com dicas sobre como os policiais devem agir em abordagens na rua. Um dos desenhos deve referir-se ao flagrante do policial pisando no pescoço da mulher negra imobilizada neste ano na capital paulista.

O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.