Com duração superior a 30 horas, o julgamento mais longo da história do Ceará encerrou na noite dessa terça-feira (1º/12). E teve como protagonista uma mulher negra.
Foi a juíza Bruna dos Santos da Costa Rodrigues quem presidiu toda a sessão do júri popular que condenou o empresário Marcelo Barberena a 82 anos de prisão pelo assassinato, em 2015, da então esposa Adriana Pessoa de Carvalho e da filha Jade Pessoa de Carvalho.
O crime aconteceu em Paracuru, município praiano da Região Metropolitana de Fortaleza no qual Bruna Rodrigues atua há pouco tempo. Ela ingressou na magistratura cearense em fevereiro de 2016 e, a princípio, foi designada para a Região Norte do Estado.
Hoje aos 33 anos, a juíza é natural de São Paulo e foi a única negra da turma de 76 juízes empossados há quatro anos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) no que foi naquele tempo a maior cerimônia do tipo em toda a história da instituição.
Uma foto de solenidade de posse que certamente você já viu circulando pelas redes sociais num meme que denuncia o quão embranquecido é o Poder Judiciário brasileiro e o quão enegrecidas são profissões social e historicamente desprezadas.

Repare bem. Tente localizar Bruna entre os homens brancos e mulheres brancas de beca em frente ao Palácio da Justiça, sede do TJCE, em Fortaleza. É um exercício difícil. Para recordar: de 76 pessoas, apenas ela era negra. Ou: 1,31% do total, sendo que 56% da população brasileira se identifica como negra.

Algo de errado não está certo, concorda? Por isso que, sim, devemos enaltecer: é NEGRA a juíza do julgamento mais longo de toda a história do Ceará. Negra e pulso firme. Ela, pertencente a uma categoria (mulher retinta) que sofre a maior quantidade possível de repressões sociais, condenou um homem branco, heterossexual, cis e rico, o indivíduo que está no topo do nosso estrato de sociedade, à prisão.

Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.