Conheça o espaço criado por uma pesquisadora inquieta com a invisibilidade do povo preto. Ela divulga todo dia a produção de conhecimento de minorias historicamente marginalizadas e ajuda a transformar a universidade também num quilombo virtual. E intelectual.
“Como negra, não quero mais ser objeto
de estudo, e sim o sujeito da pesquisa.”
Djamila Ribeiro, filósofa, feminista e acadêmica brasileira.
Assim como são quilombos nos territórios acadêmicos, os negros universitários brasileiros são resistência nos ambientes virtuais. No ar desde novembro de 2018, a página Quilombo Intelectual foi criada para dar visibilidade à produção do conhecimento sobre as temáticas negra, LGBTQI+, minorias sociais e direitos humanos em diversas áreas.
A idealizadora e gerente da página é Franciéle Carneiro Garcês da Silva, uma bibliotecária negra, mestre em Ciência da Informação e doutoranda em Ciência da Informação. Durante a graduação, na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ela integrou o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e começou a estudar a temática negra na Biblioteconomia.
Lá, participou do projeto de extensão “Biblioteca de Referência sobre Diversidade Cultural”, com atividades de divulgação científica de materiais bibliográficos do acervo da biblioteca por meio de mídias sociais. “Aliado a isso, houve o incômodo pessoal que tenho de ler casos de racismo, homofobia, lesbofobia, violência contra a mulher e violações dos direitos humanos, que têm ganhado grandes proporções. Acredito que a falta de informação é que promove o preconceito e que somente a educação pode acabar com isso. Entendo ainda que há um projeto de nação que perpetua o mito da democracia racial e o racismo como estrutural e estruturante dentro da sociedade. Dessa forma, após graduada e já no mestrado, onde elaborei uma cronologia da biblioteconomia negra brasileira com a produção científica sobre o negro na minha área de formação, resolvi criar o Quilombo Intelectual”, explica.
A página divulga conhecimentos para quem não possui acesso ou desconhece autores e autoras. As publicações mais recentes, por exemplo, abordam educação das relações étnico-raciais e Educação de Jovens e Adultos, livro didático e as relações étnico-raciais e a trajetória da escritora Conceição Evaristo.
Além disso, Franciéle Carneiro percebeu o fato de muitas pessoas não conhecerem autores e autoras negras, indígenas e LGBTQI+ contemporâneos e atemporais que abordam as questões étnico-raciais e de gênero em diversas áreas. Assim, o Quilombo Intelectual é a forma encontrada para devolver o que ela aprendeu e aprende todos os dias.
“Como mulher negra dentro da Academia, sinto o desejo de tornar visível a produção científica realizada por pessoas negras como eu, assim como de outras pessoas que buscam visibilizar o conhecimento produzido por e sobre outras etnias, trazendo para a superfície aqueles que estão sempre à margem da sociedade, inclusive na produção do conhecimento”, destaca.
TEXTO DE RAFAEL AYALA E BRUNO DE CASTRO.
Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.