Sim, eu me dei ao trabalho de olhar as diretrizes de governo que cada um dos 13 candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Você sabe quantas vezes o termo “negro(a)” aparece nos documentos?
Sim, eu fiz a conta.
Guilherme Boulos: 148 vezes.
Fernando Haddad: 29 vezes.
Ciro Gomes: 16 vezes.
João Goulart: 16 vezes.
Vera: 6 vezes.
Marina Silva: 5 vezes.
Henrique Meireles: 4 vezes.
Geraldo Alckmin: 1 vez.
João Amoêdo: nenhuma vez.
Eymael: nenhuma vez.
Daciolo: nenhuma vez.
Álvaro Dias: nenhuma vez.
Jair Bolsonaro: nenhuma vez.
Sim, o senhor que lidera as pesquisas de intenção de voto não se deu ao trabalho sequer de mencionar o termo “negro(a)” em um dos mais importantes tratados elaborados pela sua própria candidatura. Sintomático, não?
Sim. Mas, para ser franco, não de todo uma surpresa. Afinal, o que esperar de alguém que diz: “quilombola não serve nem para procriar”? E mais: “visitei uma comunidade quilombola e o negro mais magro de lá talvez pesava sete ARROBAS”. E ainda: “que dívida é essa que nós temos com os negros?”.
Sim, a postura declaradamente racista de Jair Bolsonaro já sinalizava que seu possível futuro governo será para a família tradicional brasileira, da qual negros, convenhamos, nunca fizeram parte. Ela é do homem branco, heterossexual e economicamente estabilizado.
Sim, o candidato do PSL ignora as necessidades de saúde, culturais, educacionais, de lazer, financeiras e afetivas de 54% da população brasileira. E faz isso, por mais aterrador que isso pareça, com o respaldo dessa própria população – que é bombardeada de fake news e acaba induzida a votar em quem mais lhe deprecia.
Sim, nós, negros, merecemos respeito. Ele, Bolsonaro, merece voltar à escola básica e estudar a história da população negra. Pode ser que, assim, respeite os que de fato sustentaram esse país durante séculos. Na verdade, sustentam até hoje.
Nós, negros, sim; #EleNão.
Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.