Dedicando à sensibilidade dos homens negros, o poeta baiano Marcelo Ricardo lança o projeto literário e multimídia “Adé”. Abordando as relações afetivas entre homens negros por uma perspectiva de comunidades de terreiro, a produção é composto pelo livro de poemas “Aos meus homens”, que foi lançado junto com filme ‘Adé.’
Adé é uma palavra em iorubá usada nos terreiros de candomblé para denominar homens que escolhem viver afetivamente com outros homens. Para o autor, a palavra não se centra apenas no aspecto da sexualidade, e busca ampliar o significado por um princípio da vivência comunitária e ancestralidade africana em seus versos.
“Observo um olhar redutivo sobre as experiências de dissidentes de gênero e sexuais como apenas um recorte à sexualidade, como se fossemos um ser deslocado da comunidade. Não é o que vejo nas comunidades de terreiro. Este é meu interesse no projeto: falar de comunidade, pois entendo Adé como participante e guardião do axé”, explica Marcelo, que estreia no cenário literário.
“Quando escrevo, costumo pensar meus textos em diversas condições artísticas e queria mostrar para as pessoas diversas formas em poder me ler também”, descreve. Com versos que convocam à memória do célebre sacerdote Joãozinho da Goméia, responsável por instaurar um novo olhar para os homens no candomblé, às letras melódicas do rapper paulista Rico Dalasam, que também escreve carta de abertura aos leitores que integram a coletânea de Marcelo Ricardo.
Com 100 poemas, o livro é uma declaração desde o título “Aos meus homens” e chega ao mercado pela Editora Malê, junto aos produtos para internet. O projeto Adé tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc.
MULTIMÍDIA
O livro impresso pode ser adquirido pelo site da editora. Já o material filme de lançamento da obra está disponível no canal de Adé no Youtube. O material visual é feito por cenas confessionais e performances de poemas musicados, em que o autor conta sobre suas experiências com a escrita e com outros temas que o atravessa.
As faixas que foram originadas do livro e musicadas para o filme estão distribuídas em plataformas streamings. “Eu sempre tive receio de falar, pois sentia que minha voz depunha contra tudo que eu tentava esconder. Partir desse dispositivo foi uma viagem por muitas camadas de minha história”, revela Ricardo. A produção conta com arranjos do beatmaker santamarense Laraapio, que une experimentações e toques sagrados.
Os produtos digitais que acompanham o livro formam um tripé poético e oferecem aos leitores, espectadores e ouvintes uma experiência sinestésica ampla e permanece enquanto memória. “Falar de masculinidades por meio da poesia, e do ponto de vista adé, é considerar o masculino para além das violências que lhe são agregadas. Queria falar de memórias, sensações e alternativas, sem perder também de vista de ser uma declaração aos homens negros”, realça Marcelo.
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