“Falcão e o Soldado Invernal” é a mais nova série do Disney Plus. A trama acontece seis meses após os eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019) e é focada em Samuel Wilson (Anthony Mackie), o Falcão, que agora assume o manto do Capitão América. Ao lado de Bucky Barnes (Sebastian Stan), ele enfrentará inimigos perigosos e descobrirá o que significa ser um símbolo para a nação.
Fiquei muito animada quando anunciaram o lançamento da produção no D23, uma convenção realizada pela Disney para contar as novidades, em 2019. Conheci o Falcão no desenho “Vingadores: os heróis mais poderosos da Terra” (2010), quando começava a me impressionar com o mundo dos super heróis.
Já estava bem feliz ao vê-lo no Universo Cinematográfico da Marvel, mas ele ainda só era o ajudante do Capitão América (Chris Evans) que tinha asas. Poucas pessoas entendiam a potência de Sam, o que levou muitos a questionarem o porquê de ele ser a escolha de Steve Rogers para carregar um fardo tão pesado e não o amigo Bucky.
Bem, é por isso que a Afrogeek existe. Para explicar o óbvio que muitos se recusam a enxergar.
Nascido e criado no Harlem, em Nova Iorque, Samuel Wilson teve uma infância difícil. Ainda pequeno, ficou orfão dos pais, Paul e Darlene. A mãe foi morta em um assalto na frente de Sam e o pai, um reverendo, morreu tentando apartar uma briga. Mesmo que tentasse ter uma vida reta, o futuro Capitão América logo enveredou para o crime. Sob o codinome de “Snap” Wilson, ele atuava como um cafetão para a máfia.
Porém, o coração de Sam era muito generoso. Ele percebeu que não poderia virar as costas para o seu próprio povo. Decidiu, então, deixar a vida de crimes e se tornar assistente social para conseguir ajudar os que mais precisam.
Queria: visitar o Brasil; ganhou: poderes
Em uma viagem com destino ao Rio de Janeiro, o avião em que Wilson estava caiu em uma ilha caribenha chamada Exile. O assistente social encontra com Caveira Vermelha, um vilão clássico do Capitão América, que tenta reativar “Snap” Wilson por meio do cubo cósmico (o famigerado tesseract) para fazer Sam atacar Steve Rogers.
Como todo plano infalível, a armação do vilão dá errado, mas o Falcão adquire as habilidades que possui até hoje. O herói pode se comunicar com pássaros de todo o mundo, além de conseguir enxergar através da visão deles. É assim que Sam passa a usar o seu falcão de estimação Asa Vermelha nas missões.
Após esse evento, ele ganha um par de asas feitas de vibranium, enviadas especialmente pelo Pantera Negra.
Token para o Capitão América?
A primeira aparição do Falcão foi na história em quadrinho Capitão América #117, em 1969, logo após os Movimentos pelos Direitos Civis. Eu diria que Stan Lee de bobo não tinha nada. Até aquele ano, não existiam super heróis negros nos quadrinhos. Nem Marvel ou DC Comics. Ele aproveitou que havia passado a efervescência da militância para alcançar um público em potencial. Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência.
Para não dizer que não tinha ninguém, três anos antes Pantera Negra surgia em “A fúria do Pantera”, uma narrativa recheada de estereótipos raciais de como super heróis negros devem ser. No entanto, T’Challa é africano. Por isso, não conta como primeiro herói afro-americano. Apenas detalhes.
Sam é descrito como alguém de personalidade, que peita Rogers sempre que necessário, mas que é facilmente persuadido pelo colega. Fico me perguntando como essa persuasão acontecia. Como não li nenhum quadrinho da época, não posso fazer afirmações aqui. A princípio, Steve conseguia trazer o lado mais compreensivo de Wilson. Fiquei refletindo em relação a que e a quem.
Quando li sobre, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: teria sido Sam um token para o Capitão América? Afinal, ele era escrito por dois homens brancos. Você há de concordar que a minha desconfiança tem fundamento. Ainda mais se levarmos o contexto da época em consideração.
Ironicamente, após se aliar ao Capitão, Sam é convidado para fazer parte de uma equipe dos Vingadores mais diversificada. Ao descobrir que foi chamado para completar uma cota, ele decide sair do grupo. Fica o questionamento: a criação de Sam foi pensada dessa forma no início, para preencher uma cota?
Sam Wilson: de ajudante a protagonista
Depois da morte de Steve Rogers em Guerra Civil #7, Wilson assume o escudo do Capitão América até que o amigo volte (heróis sempre ressuscitam nos quadrinhos). O evento já era muito esperado pelos fãs e Sam tinha se provado ser muito mais do que um auxiliar. Pouco antes, o ex-assistente social já havia recebido uma transfusão de sangue do próprio super soldado, deixando-o mais forte.
Sam assume novamente o manto do Capitão no arco Capitão América: Sam Wilson, lançado em 2015. Em 25 edições escritas por Nick Spencer e desenhadas por vários artistas, Wilson é colocado em diversas situações envolvendo os Estados Unidos no contexto atual. As histórias se concentram em como o herói lida com a responsabilidade do escudo enquanto mantém posições políticas fortes em frente aos dilemas do governo.
Diferente de outros super-heróis, a luta do Falcão não é contra supervilões. O coração de Samuel é cheio de generosidade, como falei acima, e é isso que o move. Por isso, ele é o Capitão América perfeito. Para além de um símbolo de um país imperialista, carregar o escudo é sobre proteger os que mais precisam.
É isso que Steve faz quando se torna um super soldado, ele e Sam sabem o que é estar no lado oprimido. Claro que Rogers gozou do privilégio de ser branco, mas isso não o isentou de sofrer ao longo da vida. Principalmente quando era um rapaz pobre do Brooklyn.
Se o Capitão América de Steve foi criado para lutar na segunda Guerra Mundial, Sam foi construído (usarei essa palavra porque creio que dá conta das mudanças do personagem ao longo dos anos) para representar a luta dos imigrantes, negros e todos aqueles que despertam a ira dos conservadores estadunidenses. Justiça a todos, doa a quem doer.
Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, foi repórter no Grupo de Comunicação O Povo. Comentarista do programa Último Tempo, na webrádio Cruzamento da turma da UFC de 2017.2. É formada em balé clássico pela Escola de Ballet Janne Ruth. Gosta de ficção científica, um bom romance clichê e é apaixonada por futebol, super-heróis e arte.
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