Pagar pra ver o futuro florescer numa terra muitas vezes hostil aos imigrantes, principalmente os vindos do continente africano, é ação cotidiana na vida do rapper santomense Dimas Kpivara. E como a vida cotidiana é insumo vital para a arte do rap, Imigrante é o nome da primeira mixtape lançada pelo artista no Brasil. Radicado no Ceará há quase dez anos, Kpivara lançou entre 2019 e 2022 os singles “Barras”, “Santola Squad”, “Nha Drill”, “Good Life”, “Desigualdade Social”, “Invejoso”, “Santomé”, “Carne Preta” e “Freestyle”.
A mixtape Imigrante traz oito músicas de drill, boombap e trap, – “Vungu Pingu”, “Imigrante”, “Makongo”, “N’ga Sêbê Sa Tagi”, “Amor Violento” e “Uê Gôdo” – mas conta também com a faixa “T.M.P.M.” de kizomba, que abre o trabalho, e também com o afrobeat “Punda Kê Kuá”.
“A escolha do nome Imigrante pra essa mixtape foi com o intuito de tentar mostrar outro lado de se enxergar uma pessoa imigrante. Sabemos que o tratamento para os imigrantes varia de acordo com o seu país de origem e para uma pessoa de origem africana, pesa mais”, conta Kpivara.
A mixtape levou três meses para ficar pronta e conta com parcerias de produtores angolanos e lusoportuguês como Legend and BeatzTi e Deejay_Show, respectivamente. As líricas que embalam o trabalho são uma mistura entre influências de São Tomé e Príncipe, país de origem de Kpivara, assim como Moçambique, Angola, Cabo Verde e a vivência dos últimos dez anos no Brasil. Kpivara já se considera também brazuca, como canta na faixa com nome homônimo ao álbum. Para o artista, a música é um convite à reflexão. Uma reflexão que chega nem sempre de forma sutil, pois o rap toca em feridas ainda abertas como racismo, desigualdades sociais, além de chamar atenção para a forma como é feita a escolha dos artistas por parte dos contratantes em Fortaleza (CE). Como é referenciado na música “Vungu Pligu”, Fortaleza tem muitos artistas underground que são ignorados e recebem pouquíssimas oportunidades de mostrarem os seus trabalhos.
Apesar deste ser o primeiro álbum lançado por Kpivara, sua trajetória artística tem diversos pontos marcantes como a abertura do show dos Racionais MC’s, no ano de 2015, em Fortaleza, quando fazia parte do grupo A.Se.Front. Em 2014, após um ano da sua chegada ao Brasil, Kpivara e Kaino 200 – rapper guineense e membro do grupo Real Power – eram os únicos estudantes que faziam rap na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Neste ano, os dois decidiram formar um grupo de rap universitário com o propósito de unir a comunidade dos estudantes dos países africanos falantes da língua portuguesa como São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique. O grupo recebeu o nome A.Sé(axé).Front no início da gravação do álbum “Não Diga Não Vale a Pena”, mas depois o nome foi alterado para A.Se.Front (África Sem Fronteiras). Álbum esse que teve participação do rapper e poeta G.O.G e isso rendeu a abertura no então show dos Racionais MC’s.
Imigrante está disponível em todas as plataformas digitais:
Spotify:
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