O tema da transição capilar tem ganhado muito terreno entre as mulheres de cabelos crespos e cacheados que se submeteram a algum tipo de alisamento químico no decorrer da vida. O termo “transição” diz respeito às mulheres que decidiram, em algum momento de suas trajetórias, abandonar o alisamento e decidiram resgatar sua identidade, assumindo os fios naturais encrespados. Seja por queda química, seja por reconectar-se com uma identidade perdida, seja por valorização da autoestima. Muitas são as razões que levam milhares de mulheres a enfrentarem este processo longo e, muitas vezes, doloroso.
Entendendo a relevância deste fenômeno na biografia de muitas mulheres, principalmente das negras e pardas, nasceu o pesquisa “Cabelo, Raiz e Identidade – Mulheres em Transição Capilar“, conduzida pela pesquisadora e estudante de doutorado Jéssica Carneiro (esta que vos fala, rs). A pesquisa, que se encontra atualmente em sua fase de investigação empírica e de entrevistas, busca entender melhor a relação que estas mulheres em transição estabelecem com seus cabelos naturais recém-assumidos e o que isto diz respeito sobre sua identidade e sobre sua trajetória.
Quem pode participar?
Se você é mulher (cis ou trans) negra, morena ou parda, de qualquer idade, passou ou está passando pela transição capilar, você está mais que convidada a participar da pesquisa “Cabelo, Raiz e Identidade – Mulheres em Transição Capilar”, que busca entender os novos modos de ser e entender-se enquanto mulher negra e parda a partir da experiência do processo de transição capilar.
Quero participar, como faço?
Para responder ao questionário, que corresponde à primeira etapa da pesquisa, . No questionário, você irá responder a questões de nível pessoal e será perguntada sobre o seu processo de transição capilar. Ao final, se quiser participar das demais etapas da pesquisa, baixa deixar seus dados para contato futuro. As informações pessoais deixadas no formulário são usadas estritamente para fins de pesquisa e seguem as normativas e condutas do Código de Ética em pesquisa em seres humanos, preservando a integridade das participantes.
Não me encaixo no perfil da pesquisa, posso enviar para amigas?
Sim! Você pode enviar para todas as mulheres que se encaixem no perfil e que concordem em participar da pesquisa. Basta enviar o .
Por que estudar transição capilar?
O interesse em pesquisar as mulheres negras e pardas que estão em processo de transição nasceu do seguinte questionamento:
por que o cabelo crespo é considerado “ruim” e como isso afeta a autoestima e a saúde mental das mulheres?
Embora a lida com o cabelo possa parecer uma questão meramente pessoal/individual, que não diz respeito a mais ninguém, não é muito difícil entender que o preconceito e a falta de autoaceitação que muitas mulheres de cabelo crespo sofrem tem uma relação direta com a herança racista que até hoje somos obrigadas a enfrentar. Como assim?
Tanto a cor da pele quanto o cabelo crespos são duas características fenotípicas que, no Brasil, dizem muito sobre a construção de uma identidade racial, sendo muitas vezes os definidores de um pertencimento étnico. Ou seja, o processo de transição capilar e a acolhida de um “novo” cabelo natural, livre de química, revela – além de uma “mudança no visual” – as pequenas e quase imperceptíveis nuances das tensões raciais que vivemos no Brasil, traduzidas no corpo feminino negro. O cabelo crespo, visto até hoje como “ruim”, reflete a expressão do racismo e da desigualdade racial que recai sobre os corpos negros.
O tratamento dado ao cabelo pode ser considerado uma das maneiras de expressar essa tensão. A consciência ou o encobrimento desse conflito, vivido na estética do corpo negro, marca a vida e a trajetória dos sujeitos. Por isso, para o negro, a intervenção no cabelo e no corpo é mais do que uma questão de vaidade ou de tratamento estético. É identitária. Nilma Lino Gomes, autora da obra “Sem perder a raiz: cabelo e corpo como símbolos da identidade negra”.
Assim, entendo o cabelo crespo como não apenas um signo em reconstrução, mas um veículo através do qual podemos nos aprofundar no debate étnico e desenvolver um entendimento sobre a construção racial no Brasil. Assim nasce esta pesquisa.
Dúvidas e maiores informações
@carneirojessi | jessicarneiro@alu.ufc.br

Publicitária cearense. Canceriana. Doutora e mestre em Psicologia. Amante da docência. Integrante do Grupo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisas e Intervenções em Psicologia Social Crítica (Paralaxe-UFC). Defendeu em sua tese de doutorado um estudo sobre mulheres em transição capilar. Atualmente, dedicada aos estudos de gênero, raça, feminismos negros e decolonialidade.
Louca por fotografia, design, viajar e colecionar carimbos no passaporte. Uma pessoa extremamente curiosa.