A primeira escola quilombola de tempo integral é realidade no Ceará. O equipamento foi inaugurado nessa segunda-feira (18/8) no distrito de Queimadas, em Horizonte, município da Região Metropolitana de Fortaleza.
Fruto de um investimento de R$ 12,9 milhões do Governo do Estado, o espaço conta com quatro salas de aula, quatro laboratórios de Ciências, laboratório de Informática, biblioteca, quadra poliesportiva coberta, jardins e pavimento em piso intertravado, estacionamento e áreas de circulação com acessibilidade, bloco recreio com cozinha e refeitório, depósito e vestiários, auditório e bloco administrativo.
A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Antônia Ramalho da Silva é a segunda unidade quilombola do Ceará e a primeira na modalidade tempo integral. O prédio é o padrão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério da Educação (MEC).

“A nossa escola nasceu de um sonho. Antes, a gente dividia a escola com estudantes do ensino fundamental, mas agora temos o nosso espaço”. “Aqui temos o nosso espaço, aqui temos onde nos ligarmos com a nossa ancestralidade. Essa é uma vitória para a nossa comunidade. Ter uma escola com essa estrutura muda tudo. Muda as nossas oportunidades e fortalece nossa conexão com nossa cultura”, afirma a estudante Ariadny Santos.
Diretor da escola, Gustavo Vasconcelos ressalta a importância de o espaço oferecer uma educação diferenciada, a partir da perspectiva étnico-racial. O currículo foi construído pelo corpo docente a partir das vivências, com foco na preservação da identidade cultural. A grade curricular é baseada em oito eixos: memória, oralidade, comunidade, territorialidade, ancestralidade, tecnologias, saúde da população quilombola e mulher quilombola.
“Esse local é um sonho da comunidade, uma comunidade que começou os seus estudos debaixo de um pé de cajueiro. Quando a educação era negada o acesso, esse povo resistia debaixo desse pé de cajueiro. Essa escola é um passo de luta, de resistência e de ancestralidade. Cada tijolo aqui foi construído por mãos de trabalhadores e trabalhadoras, na maioria deles, pessoas da comunidade, em sua maioria pais de alunos e alunas nossas. Aqui tem o suor, o sangue, a luta e a resistência do povo quilombola”.

QUILOMBOLAS NO CEARÁ
Apesar do forte mito de que o Ceará não tem negros, cerca de 90 Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQs) são oficialmente catalogadas pelo Estado brasileiro. Isso prova que existiram escravizados negroafricanos no Estado. Em 2018, o Ceará Criolo publicou um especial sobre o tema. O material foi intitulado “85 – O Ceará tem preto, sim” e mapeia as 85 CRQs reconhecidas à época.
De acordo com censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nosso país tem 1,3 milhão de quilombolas. Já o Ceará tem cerca de 24 mil. A cidade com mais CRQs é Caucaia.
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O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.