Em 2017, completou-se 100 anos da morte de Maria Firmina dos Reis (1825-1917). Maranhense, filha de uma portuguesa com um negro, possivelmente um escravo africano, de acordo com pesquisadores. Poucos ouviram falar dessa mulher que deveria constar nos livros como uma peça importante da literatura brasileira e da história da população negra do país.
Ao mudar-se ainda pequena para a casa de uma tia com melhores condições financeiras, na Vila de São José de Guimarães, passou a ter contato com a literatura e com parentes ligados à área cultural. Esse ambiente, somado ao autodidatismo, fez com que a jovem se inclinasse para o mundo das letras. Firmina era mesmo uma mulher negra à frente do seu tempo.
Em 1847, tornou-se professora primária, sendo a primeira mulher aprovada em concurso público no Maranhão. Na ocasião, demonstrou sua postura antiescravista, se recusando a desfilar em palanque carregada nas costas de escravos. Era independente, arcava com as próprias despesas, o que não era comum e nem visto com bons olhos naquela época.
Úrsula é lançado em 1859 e é considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. Logo no seu início, Firmina diz que “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”. Maria sabia do que estava falando. A literatura era dominada por homens brancos, ricos e com formação europeia. Além de mulher, ela era negra, bastarda, nordestina e pobre. Seu livro foi pioneiro ao tratar criticamente do cenário escravagista. Nele, os escravos não eram objetificados, ao contrário, eram humanizados, eram sujeitos, contavam suas próprias histórias.
“Em sua literatura, os escravos são nobres e generosos. Estão em pé de igualdade com os brancos e, quando a autora dá voz a eles, deixa que eles mesmos contem suas tragédias. O que já é um salto imenso em relação a outros textos abolicionistas”, conta a professora Régia Agostinho da Silva, professora da Universidade Federal do Maranhão e autora do artigo “A mente, essa ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis e a escrita feita por mulheres do Maranhão.”
Por muitos anos seu livro ficou esquecido no porão de uma biblioteca pública no Maranhão até ser trazido à tona e colocado à disposição do mercado literário novamente.
Depois de aposentada, Firmina funda, em 1881, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão, porém, as atividades foram encerradas antes da instituição completar três anos, devido à desaprovação da sociedade em misturar homens e mulheres.
Ela ainda publicou outras obras de cunho antiescravista: Gupeva (1861), A Escrava (1887) e Cantos à Beira-Mar (1871). Em 1888, compôs o Hino de Libertação dos Escravos. A escritora costumava reunir cânticos populares ligados à cultura do Maranhão.
A obra e a memória de Maria Firmino dos Reis sofreram, e ainda sofrem, as consequências de um processo de apagamento cruel da história de vidas negras. Até a imagem que reproduziria sua fisionomia foi “clareada” e “afilada”. Tiram a importância, o protagonismo e ensinam nas escolas uma cultura nos moldes europeu, masculino e branco. Algumas iniciativas tentam reconstruir a trajetória da escritora, mas ainda se sabe pouco mediante a grandeza dessa personagem. Há muito que se descobrir sobre Firmina.
SÍNTESE BIOGRÁFICA
• 1825 – nasceu : 11 (onze) de 10 (dez). cidade: São Luís – Maranhão; local: bairro de São Pantaleão, nas imediações da igreja; pais: João Pedro Esteves e Leonor Felipa dos Reis.
• 1847 – disputa com duas concorrentes à vaga da cadeira de primeiras letras da cidade de Guimarães e é a única aprovada.
• 1859 – edita (ou se encontra adiantada a composição e impressão) o seu romance Úrsula.
• 1860 – em A Imprensa colabora com uma poesia, trazendo as iniciais de seu nome: M. F. R.
• 1861 – colabora no Publicador Maranhense. Colabora assiduamente no jornal literário A Verdadeira Marmota. Colabora na antologia poética Parnaso Maranhense. Colabora em O Jardim Das Maranhenses, jornal literário do qual é também assídua colaboradora, começa a ser publicado o seu romance Gupeva.
• 1862 – continua a colaborar com o jornal A Verdadeira Marmota.
• 1863 – colabora no jornal Porto Livre, republicando Gupeva.
• colabora no Almanaque das Lembranças Brasileiras.
• 1865 – publica no jornal literário o Eco da Juventude, além de poesias, o conto Gupeva, mais uma vez.
• 1867 – colabora no jornal literário Semanário Maranhense.
• 1868 – colabora no Almanaque de Lembranças Brasileiras.
• 1871 – o jornal Publicador Maranhense anuncia que será impresso o seu livro de poesia: Cantos À Beira-Mar.
• 1872 – colabora com jornal literário O Domingo
• 1880 – funda no município de Guimarães uma aula mista (para os dois sexos) e gratuita.
• 1881 – aposenta-se do ensino público oficial.
• 1885 – colabora no jornal O País.
• 1887 – em A Revista Maranhense, publica, além de poesia, o conto A Escrava.
• 1888 – compõe o Hino da Libertação dos Escravos (letra e música).
• 1889 – colabora no jornal Diário do Maranhão.
• 1897 – colabora no jornal Pacotilha.
• 1900 – colabora no jornal Pacotilha.
• 1903 – colabora no jornal Federalista.
• 1917 – falece em 11(onze) de 11 (onze) cidade: Guimarães.
Fontes:
https://mariafirmina.org.br/
http://grupovioles.blogspot.com/2017/05/mulheres-que-fizeram-historia-maria.html
https://www.brasildefato.com.br/2017/11/03/conheca-maria-firmina-dos–a-primeira-romancista-negra-do-brasil/
https://revistacult.uol.com.br/home/centenario-maria-firmina-dos-/
http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/322-maria-firmina-dos-
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=7077
http://leituraspretas.blogspot.com/p/biografia-maria-firmina-dos-.html
Publicitária. Movida por decibéis, apegada ao escurinho do cinema e trilha o aprendizado de ser uma mulher preta. Trabalhou em agências de Fortaleza e Salvador ao longo de 10 anos. Hoje responde pela Mídia na Set Comunicação, house da Educadora 7 de Setembro.
1 comentário
Já tinha ouvido falar de Maria Firmina, mas de forma muito incipiente. A literatura brasileira tem muito a resgatar das criações de autorxs negrxs! Carolina Maria de Jesus, Cruz e Sousa e tantos outros que nem sequer ouvimos falar. Bela iniciativa! Sigamos!