A banda BaianaSystem está com disco novo. Repleto de parcerias, O mundo dá voltas homenageia a antropóloga Lélia Gonzalez em uma das músicas. A faixa “Porta-retrato da família brasileira” tem letra a partir do principal conceito criado pela intelectual – o da amefricanidade – e faz referência a um dos mais importantes livros da mineira – o “Primavera para as rosas negras.”
Ao falar em amefricanidade, Lélia define uma identidade étnica que reconhece a importância dos povos indígenas e africanos, em vez de tratar a todos como “americanos”, cuja alusão é muito maior aos Estados Unidos do que à diversidade das populações do continente. O mesmo faz BaianaSystem, ao colocar como personagem principal da canção uma mulher negra com filhos.
Isso porque Lélia Gonzalez alerta em inúmeros textos, teorias e falas públicas o quanto a mulher negra é a pessoa que sofre mais opressões na sociedade brasileira (pela raça (por ser negra), pelo gênero (por ser mulher) e pela classe (por, quase sempre, também ser pobre)). Diante do processo de formação do Brasil, é essa mulher negra, portanto, quem mais representa a figura da “família” (daí o nome da faixa ser “Porta-retrato da família brasileira”).
É por isso também que a música clama: “primavera chegou”. Essa primavera é a das rosas negras (uma metáfora sobre mulheres negras), as responsáveis pela manutenção dos lares e pelas principais revoluções da história brasileira (embora estejam invisibilizadas nas narrativas “oficiais”).
QUEM FOI LÉLIA
Lélia Gonzalez foi uma filósofa e antropóloga brasileira. Nascida em Belo Horizonte (MG), ela é uma das maiores referências nos estudos e debates de raça, gênero e classe no mundo, sendo uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). Atuou politicamente contra o racismo e o sexismo, e cunhou conceitos importantes para os estudos das relações raciais, tais como o de “amefricanidade” e “pretuguês”.

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