A música negra foi a grande vencedora da edição deste ano do Grammy, ocorrida em Los Angeles, nos Estados Unidos, neste domingo (2/2). Das dez categorias principais (aquelas transmitidas pela televisão), sete foram vencidas por artistas negros, sobretudo mulheres. A cantora Beyoncé e o rapper Kendrick Lamar foram destaques tanto pelos prêmios que venceram quanto pelos diversos recordes que quebraram em decorrência disso.

Lamar foi o artista mais premiado da noite. Levou cinco troféus. Todos por “Not like us”. Feita para o eterno desafeto Drake, a canção venceu em “Melhor clipe”, “Melhor performance de rap”, “Melhor música de rap”, “Música do ano” e “Gravação do ano”.
Assim, Kendrick estabeleceu dois recordes: 1) por conquistar a maior quantidade de prêmios para uma só música de rap na história do Grammy e 2) por ganhar em todas as categorias nas quais concorreu. Foi o único desta edição a conseguir isso e se consagrou como o nome do rap a ser batido daqui pra frente.
Ele e Beyoncé conquistaram os três mais importantes prêmios da noite, o que conferiu aos dois outro marco de peso: há 33 anos, os troféus de “Música do ano”, “Gravação do ano” e “Álbum do ano” não ficavam todos com artistas negros. A última vez que isso aconteceu foi em 1992.

Além disso, a cerimônia de ontem do Grammy fez de Beyoncé:
- a primeira mulher negra a vencer uma categoria de country (“Melhor dueto, com Miley Cyrus, em Two Most Wanted”;
- a primeira mulher negra a vencer a categoria “Melhor álbum country”, com Cowboy Carter;
- a primeira mulher negra a vencer a categoria “Álbum do ano”, a mais importante do Grammy, no século XXI, com Cowboy Carter;
- a única cantora com prêmios em cinco gêneros diferentes: pop, R&B, rap, dance/eletrônico e, agora, country;
- a única cantora com Grammys em três décadas diferentes (2000, 2010, 2020).
Ao todo, Beyoncé concorria em 11 categorias pelo trabalho no country (este, aliás, outro recorde). Perdeu, portanto, em oito (algumas de forma surpreendente, diga-se). Ainda assim, terminou a noite aclamada por ser a quarta mulher negra a conquistar o “Álbum do ano” nas 67 edições do Grammy. Somente Natalie Cole (1992), Whitney Houston (1994) e Lauryn Hill (1999) haviam alcançado o feito. Ela quebrou, então, um jejum de 26 anos.
Desta forma, Beyoncé permanece como a artista (entre homens e mulheres, em todos os gêneros musicais) mais premiada da história do Grammy, com 35 estatuetas (já que tinha 32 e venceu três ontem). Em 25 anos de carreira, a cantora soma 99 indicações em várias categorias, tendo como maior concorrente o próprio marido, Jay-Z, que contabiliza 89 indicações.

Além disso, a noite foi especial porque Beyoncé finalmente venceu em “Álbum do ano”. Essa foi a quinta tentativa dela, que sempre era derrotada por um artista branco do pop – o que gerou inúmeras críticas à organização do prêmio. A maior de todas ocorreu em 2023, quando “Renaissance”, dado como vencedor pela opinião pública, sendo quase unanimidade, foi derrotado pelo controverso disco “Harry’s House”, do britânico Harry Styles.
Bruno Mars, Doechii e Alicia Keys fecham a lista de artistas negros que ganharam as principais categorias do Grammy deste ano. Ele pela parceria com Lady Gaga, em “Die with a smile”, que venceu a disputa de “Melhor dueto pop”; e elas por “Melhor álbum de rap” e “Impacto Global”, respectivamente.
Doechii, inclusive, viralizou nas redes sociais devido a dois fatores: 1) ter sido a terceira mulher a vencer esta categoria (antes dela, somente Lauryn Hill e Cardi B haviam conseguido) e 2) o discurso empoderador que fez para estimular mulheres negras a não desistirem dos sonhos mesmo que o mundo lhes diga para não seguirem adiante. Vale assistir.
Testemunhar toda essa excelência negra musical foi um belo jeito de começar o “Black History Month“.
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