Desde que recentemente estourou no mercado musical, a cantora pop norte-americana Lizzo bate recorde sobre recorde. O mais recente foi a conquista do certificado de platina por vender nos Estados Unidos mais de um milhão de cópias de “Cuz I Love You.”
O trabalho é o terceiro da carreira dela (os dois primeiros foram Lizzobangers, em 2013, e Big Grrrl Small World, em 2015). E ganhou nada menos do que três Grammys de uma só vez este ano: melhor álbum urbano contemporâneo, melhor performance solo de pop (pela aclamadíssima Truth Hurts) e melhor performance tradicional (por Jerome).
Se você ainda não ouviu “Cuz I Love You”, recomendo que vá agora pro seu serviço de streaming. É um álbum que precisa ser ouvido. Uma obra-prima desde o primeiro grito rasgado da primeira música.
Lizzo é negra, rapper e gorda. É vista desta forma, com todos os estereótipos que tudo isso pode trazer, se enxerga desta forma, com todos os estereótipos que tudo isso pode significar, e canta em quase todas as canções sobre como é importante a gente se aceitar – e, acima de tudo, se respeitar.
A descobri ano passado, por indicação de um amigo. E passei semanas ouvindo apenas “Cuz I Love You”. E fucei sobre ela. Catei apresentações ao vivo pra comprovar toda a potência vocal do álbum. E vi que era tudo verdade. De verdade. Sem disfarce.
É o fato de Lizzo se dar muito bem consigo mesma que faz o trabalho dela ser tão genuíno. Não tem como você não acreditar no que está sendo dito nas músicas. Ou nas entrevistas que ela dá, se você for mais curioso e, nessa vida louca sem tempo pra nada, tiver disposição de assistir a um papo dela sobre música e vida.
Papos, inclusive, que renderam muita polêmica na passagem dela pelo Brasil semanas atrás. Algumas entrevistas repercutiram muito devido ao tom grosseiro de alguns repórteres que a abordaram com afirmações machistas, misóginas e racistas – induzindo o público a achar que Lizzo é reconhecida muito mais por ser gorda e preta do que por ter um vozerão da porra!
Todo o sucesso conquistado por ela até aqui, mesmo que tardio, é merecido. Ela é uma artista necessária, especialmente por termos hoje um mundo pop tão feito de aparências eurocêntricas, patriarcais e heteronormativas. Lizzo nos dá a certeza de que é possível ouvir música de verdade. Com gordura e melanina.
Ainda bem.
Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.