Proporcionar uma vivência sobre a cultura afrodescendente com os jovens da periferia atendidos pelo Cuca Mondubim por meio da manifestação cultural do Tambor de Crioula. Esse é o objetivo do projeto Papo de Tambor.
O encontro é uma oportunidade para a discussão de questões sobre o papel do negro na sociedade, identidade cultural, racismo, intolerância religiosa, entre outras temáticas, de forma descontraída, envolvendo também uma experiência prática com o toque, o canto e a dança do Tambor de Crioula.
De acordo com o arte educador Wellington Nascimento, o Papo de Tambor surgiu a partir da necessidade de propor discussões no Cuca sobre identidade cultural, cultura afrobrasileira, “ser negro” e todo o legado deixado pelos povos africanos submetidos à escravidão no Brasil. Para Wellington, ainda são momentos restritos a datas, eventos e espaços, que não alcançam uma parcela da sociedade, grande parte localizada na periferia, sendo necessária a contribuição nessas discussões.

O projeto é realizado quinzenalmente e utiliza o Tambor de Crioula como didática. A roda de tambor começa com uma fogueira para o afinamento dos tambores por meio do calor. Enquanto isso, alguma temática relacionada à cultura afrobrasileira é discutida pelos participantes. A parte prática da vivência inclui o aprendizado do toque dos tambores, canto e dança, a critério dos participantes.

O processo se repete após os instrumentos desafinarem e, ao final da atividade, sempre se canta uma cantiga de despedida. “Ainda existe um tabu muito grande de se conversar sobre isso (ser negro). É discutido em grupos fechados. Não que isso seja ruim, mas a gente precisa ampliar. Estrategicamente, os equipamentos públicos são pontos que devem ser fomentados e essa discussão ser fortalecida. A gente viu no Tambor de Criola uma linguagem que por si só é didática. Vimos nela a possibilidade de se discutir essas temáticas com jovens”, explica.
Tambor de Crioula
De acordo com Albino Oliveira, museólogo da Fundação Joaquim Nabuco, o Tambor de Crioula é uma forma de expressão de matriz afrobrasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores. Patrimônio Imaterial Brasileiro desde 2007, seu local de origem e ocorrência é o estado do Maranhão.
“Trazido para o Brasil entre os séculos XVIII e XIX por escravos de diversas regiões da África, o Tambor de Crioula é uma forma de divertimento ou de pagamento de promessa a São Benedito (santo negro) e também a outros santos vinculados ao catolicismo tradicional, bem como a entidades cultuadas nos terreiros”, explica, em artigo no portal da Fundação Joaquim Nabuco.
Os grupos de Tambor de Crioula são formados pelas coreiras, nome dado às dançarinas, pelos tocadores e pelos cantadores, conduzidos pelo ritmo ininterrupto dos tambores e pela influência do canto, culminando na punga ou umbigada. “É de muita valia estarmos em um equipamento público que trabalha com jovens e que a gente possa discutir de forma tranquila, na qual a gente faz a conversa, discute, mas sempre finaliza com uma roda de tambor, tocando, dançando, sorrindo e se abraçando. Como os nossos ancestrais faziam. Diante de toda a dor, eles deixaram um presente como esse”, finaliza Wellington Nascimento.
Serviço
Papo de Tambor
Quizenalmente no Cuca Mondubim
Em janeiro, ele será realizado nos dias 11 e 25, às 16h, ao lado do Ginásio.
Confira a programação dos Cucas: https://juventude.fortaleza.ce.gov.br/rede-cuca

Jornalista. Alma de cronista, coração de poeta. Tem experiência em Assessoria de Comunicação. Apaixonado por futebol, boas histórias e fim de tarde.