Em busca de questionar o cânone racista da produção historiográfica de Fortaleza, o projeto “Itinerário de uma história soterrada” promove duas rodas de conversa com a exibição de uma vídeo-performance sobre a história de vida de Raimundo, mais conhecido como “burra preta”. Os encontros acontecerão no dia 15, às 19h, na escola Porto Iracema das Artes, e no dia 16, às 17h, no Centro Cultural Bom Jardim. O projeto faz parte do XII Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Ceará.
Idealizado pelo músico, sociólogo e produtor Lucas Vidal, o projeto surge de sua tese de doutorado intitulada “De Burra Preta a Raimundo: Itinerário de uma história soterrada”. A pesquisa faz um resgate da história dessa personalidade negra de Fortaleza que, na maioria das vezes, é narrada de maneira racista. Raimundo era um homem negro de pele escura presente nas narrativas de diversas pessoas que trabalharam, moraram ou apenas transitaram pela Praça do Ferreira e Praça dos Leões entre os anos 1970 e 1980.
Conhecido por sua aparência e classificado como “agressivo” quando gritavam o seu apelido, faz parte da história da cidade e, apesar de não haver registros de sua existência, ele vive pela oralidade das narrativas. A vídeo-performance e as rodas de conversa tem como objetivo discutir o apagamento historiográfico da memória de pessoas negras e refletir sobre a naturalização do racismo sobre corpos negros e gays.
Lucas Vidal revela que a motivação do projeto foi o apagamento sistemático das referências negras na história de Fortaleza e o sentimento de como isso pode estar perdurando com o tempo. “A identidade negra que muitas vezes conhecemos pertence a uma ótica racista que enquadra nossos corpos em meio a relatos de violências e carregados de estereótipos. Com o projeto, eu quero problematizar essa naturalização do racismo presente na historiografia e construir um olhar contracolonial sobre essas trajetórias negras e tratar com dignidade as memórias de nossa ancestralidade local.”
Na vídeo-performance, o ator Ismael Pires percorre lugares do centro da cidade pelos quais Raimundo sempre passava. Interagindo com frequentadores, o personagem faz um resgate da presença de Raimundo. Assim, a experiência faz desencadear uma reavaliação das narrativas coloniais que sustentam visões distorcidas e frequentemente desumanizantes dos corpos negros.
Segundo Lucas Vidal, o projeto vai além do contexto artístico e histórico. “Itinerário de uma História Soterrada é um questionamento das memórias de corpos negros que estão soterradas para a historiografia oficial, mas estão presentes nas narrativas orais de determinados contextos e territórios”. Com as rodas de conversa sobre a trajetória de Raimundo e sua relação com o povo negro de Fortaleza, Lucas Vidal inicia uma jornada para a redescoberta, a reparação e, acima de tudo, a dignidade das memórias de nossa ancestralidade.
SERVIÇO
Itinerário de uma história soterrada
Quando: 15/9, às 19h, no Porto Iracema das Artes, e 16/9, às 17h, no Centro Cultural Bom Jardim.
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