Um dos fundadores do Ceará Criolo, o jornalista Bruno de Castro venceu nesta quinta-feira (25/7) o Prêmio Lélia Gonzalez de produção acadêmica. Ele ficou em primeiro lugar na categoria Melhor Dissertação de Mestrado na área de Antropologia Social pelo trabalho “Tudo o que nóiz tem é nóiz: Um estudo sobre narrativas negras do jornalismo brasileiro”.
A honraria é concedida a cada dois anos pelo Comitê de Antropólogas(os) Negras(os) da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a mais antiga das instituições científicas do país na área das Ciências Sociais. Este ano, a revelação dos ganhadores aconteceu em Belo Horizonte, durante a 34ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), ocorrida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Concorreram pesquisas produzidas em todo o território nacional em cursos de graduação e pós-graduação.
No caso de Bruno, o estudo foi desenvolvido entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 como requisito parcial à obtenção do grau de mestre em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (PPGA UFC-Unilab). O jornalista foi orientado pela professora Vera Regina Rodrigues da Silva, integrante dos quadros da Unilab.
Segundo a ABA, o Prêmio “é um reconhecimento à contribuição do pensamento de Lélia Gonzalez à Antropologia brasileira e à luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo” e “visa estimular novas carreiras, dando visibilidade à produção original e de reconhecida qualidade acadêmica”. Essa foi a primeira vez que um cearense venceu nas categorias de pós-graduação.
Na edição anterior, em 2022, a estudante Juliana Silva Chagas, também do PPGA UFC-Unilab, recebeu uma menção honrosa pela dissertação “Negritude. Moda afro. Diáspora. Afroempreendedorismo”. Já no primeiro Prêmio, em 2020, a estudante Naiana Jesus Pinto ficou em primeiro lugar na categoria “Artigo Acadêmico”, destinada a estudantes negros(as) de graduação, com o estudo ‘Território falante: uma escrevivência das experiências e (r)existências do Quilombo Dom João'”.
SOBRE A PESQUISA
Bruno reflete sobre a atuação de mídias negras brasileiras desde o período da ditadura militar até os dias de hoje, buscando compreender por que essas plataformas de conteúdo existem, como articulam-se e de que maneira lidam com fenômenos sociais. Para isso, ele entrevistou 12 comunicadores(as) negras(os) de três gerações diferentes e de seis estados brasileiros distintos: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Amazonas.
O jornalista produziu uma pesquisa na qual são citadas(os) somente intelectuais negras(os) da Comunicação, do Jornalismo, da Antropologia e de áreas afins das Ciências Sociais e Humanas. No mundo acadêmico, esse tipo de estudo é chamado de “afrorreferenciado”. Além disso, Bruno resgatou a história de cada uma dessas pessoas em notas minibiográficas (94, ao todo, como forma de combater a invisibilização dessas(es) intelectuais no mundo acadêmico).
“A pauta racial ainda não ocupa o lugar que deveria no ambiente acadêmico. Mesmo com os avanços no campo dos direitos humanos e da garantia de direitos civis das últimas décadas, debater o racismo é algo que enfrenta muita resistência nas universidades. No Jornalismo, por exemplo, onde estou agora, a discussão racial é quase nenhuma. E ela tem que acontecer, porque todos nós, antes de sermos jornalistas, somos pessoas com uma raça. Raça essa que é determinante para o modo como nós compreendemos os fenômenos sociais e, consequentemente, como vamos narrar esses fenômenos para o nosso público. Essa pesquisa, então, é uma pequena contribuição para que mais estudos sejam feitos colocando a raça como elemento central do Jornalismo. O meu só foi possível porque intelectuais como Lélia lutaram para isso. Ela abriu caminhos”, afirma Bruno de Castro.
QUEM FOI LÉLIA
Homenageada pelo prêmio da Aba, Lélia Gonzalez foi uma filósofa e antropóloga brasileira. Nascida em Belo Horizonte (MG), ela é uma das maiores referências nos estudos e debates de raça, gênero e classe no mundo, sendo uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). Atuou politicamente contra o racismo e o sexismo, e cunhou conceitos importantes para os estudos das relações raciais, tais como o de “amefricanidade” e “pretuguês”.
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O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.