“Amar a negritude como resistência política transforma nossas formas de ver e ser e, portanto, cria as condições necessárias para que nos movamos contra as forças de dominação e morte que tomam as vidas negras.” – bell hooks
Ser negro em 2020 e, principalmente, no Brasil, é um ato de resistência política que nos leva a enfretamentos diários e contínuos do sistema. Apesar de a maioria da população brasileira ser negra e feminina, e também da Brazilian Surf Storm já durar um bom tempo, ainda não é possível ver mulheres negras bem sucedidas no surf.
Quando falamos em mulheres surfistas, o imaginário nos conduz pela mão e nos leva a uma mulher branca, quase sempre loira, da pele avermelhada, cabelos ondulados, magra e sempre muito “good vibes”. Mesmo sendo minoria no Brasil, esse estereótipo é o que está presente no cenário do surf, seja ele mundial ou local.
Diante disso, quando comecei surfar, apesar de sempre escutar sobre a cor praiana, nunca me vi ou me senti representada. Poucas eram as minhas surfistas favoritas que se pareciam comigo. Diante dessa inquietação, resolvi buscar mulheres que sentiam o mesmo desconforto que o meu. E o que encontrei foi para além do esperado: vi que essas meninas tinham seus sonhos boicotados por causa da cor da pele.
A partir de uma conversa com um grupo de surfistas do Rio de Janeiro (@surfistasnegras), pedi licença para criar, inicialmente, uma página semelhante, mas com um viés, talvez, um pouco mais político e centrado na realidade da mulher nordestina. Surgiu, assim, o perfil @surfistasnegrasce no Instagram.
Isso começou em maio deste ano. A ideia era realizar lives, trazer posts explicativos e compartilhar experiências e histórias. Porém, em uma dessas tentativas de marcar uma live, conheci a Tita Tavares, um dos grandes nomes do surf cearense e brasileiro, que estava passando por dificuldades com a casa que morava.
A partir desse momento, todas as ações se concentraram em recuperar esse imóvel numa campanha que ganhou proporção internacional. Foram arrecadados, através das mídias, mais R$ 12 mil, além de outras colaborações que foram diretamente para a atleta.
Ainda existem muitos sonhos por vir, como buscar patrocínio para atletas negras e periféricas, tornar o surf um esporte mais acessível, entre outros projetos para além das redes sociais. Mas a ideia vai ser sempre vencer esse racismo que, dentro d’água, nos impede de remar mais forte e nos nega as melhores ondas.
O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.