Não se sabe ao certo se o personagem a seguir é uma figura histórica ou uma lenda, passada através do tempo por meio da tradição oral de Minas Gerais. Chico Rei, monarca no Congo e escravizado no Brasil, segue sendo um mistério, assim como uma história a ser compartilhada.
Relatos dão conta de que traficantes de escravos portugueses invadiram o reino de Chico e escravizaram a todos. Durante a viagem ao Brasil no navio negreiro Madalena, a rainha Djalô e a princesa Itulo foram jogadas no mar como forma de acalmar os deuses. Assim, quando chegaram à costa brasileira em 1740, apenas Chico e um filho sobreviveram.
Em algumas histórias, Galanga seria o nome de Chico Rei; em outras, o local de nascimento no Congo. Ao chegar ao Brasil e ser batizado, recebeu o nome de Francisco e o apelido seria consequência da realeza.
Durante o trabalho de mineração, conseguiu comprar sua liberdade e de seu filho. Como ele teria conseguido? Escondendo pepitas de ouro no cabelo. Além de adquirir a mina da Encardideira, começou a comprar a alforria de outros de seu povo. Os libertos o consideravam um rei.
“Sua devoção à Santa Efigênia cresceu com fé robusta. Foi então que Chico sentiu a necessidade de erguer uma igreja para a santa, cuja capela se fincou com modéstia no Alto da Cruz. Uma igreja no alto do morro para ser vista por todos. Ali, Chico Rei foi crismado por Dom Manoel da Cruz e casou-se, pela segunda vez, com Antônia, filha do Sacristão da Igreja, sendo seu casamento realizado por Dom Manoel”, registra o portal Casa raiz Lunda Kioko, fundada na década de 60, em Belo Horizonte.
Em matéria para o site Observatório do Terceiro Setor, Maria Fernanda Garcia conta que o grupo de libertos associou-se em uma irmandade em honra de Santa Ifigênia, sendo a primeira irmandade de negros livres de Vila Rica. Dessa forma, conta, Chico Rei conseguiu virar monarca em Ouro Preto, antiga Vila Rica, em Minas Gerais, no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de Andrada, o conde de Bobadela.
Entre a lenda e a realidade, a inspiração para os demais
Em reportagem do jornal Estado de Minas, a promotora cultural do Museu da Inconfidência, historiadora Margareth Monteiro, lamentou o fato de muitos documentos da época terem sido perdidos, extraviados ou queimados, impedindo os especialistas de pesquisarem a fundo a trajetória de Chico Rei.
“Ele é citado apenas numa nota de rodapé no livro História antiga de Minas, de 1904, de Diogo de Vasconcelos. Em 1966, o romancista Agripa Vasconcelos escreveu o livro Chico Rei. É fundamental, portanto, que permanentes estudos sejam feitos para traçar, com detalhes, a trajetória de Galanga, do Congo ao Brasil”, explica Margareth.
Se real ou não, a história de Chico Rei foi passada por meio da tradição oral e segue como uma história de superação e de luta pela liberdade. Inspiração no passado e para os dias atuais.

Jornalista. Alma de cronista, coração de poeta. Tem experiência em Assessoria de Comunicação. Apaixonado por futebol, boas histórias e fim de tarde.