Eu já estou cansada de precisar repetir aquele velho bordão que “o Brasil é o país que mais mata travesti no mundo”. Mas infelizmente é a realidade e eu penso que para mudarmos as estruturas precisamos nos infiltrar nelas e fazermos elas ruírem e caírem por terra.
A institucionalização da transfobia é algo real e extremamente perigoso. Neste momento, por exemplo, temos em São Paulo a deputada Érica Malunguinho, juntamente com a Mandata Quilombo, travando batalhas direta na Assembleia Legislativa por conta de vários projetos de lei extremamente transfóbicos. Um, inclusive, pretende excluir pessoas trans dos esportes. E nós precisamos é de mais representações trans, sobretudo negras, na política que façam esse trabalho de enfrentamento para a transfobia não se institucionalizar.
Segundo o mapeamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), nas últimas eleições municipais, em 2016, tivemos apenas 80 candidaturas de pessoas trans em todo o Brasil. Desse total, somente oito foram eleitas.
Os dados desse mapeamento estão disponíveis no site da Antra, que já disponibilizou link para cadastro este ano: https://antrabrasil.org/eleicoes2020/.
Esse trabalho é de extrema importância para o acompanhar o acesso de nossa população a cargos políticos no Brasil e traçar um perfil dessas candidaturas. E também apoiar, incentivar e garantir o pleno exercício do direito a candidatar-se.
Como diz Indianarae Siqueira; “eleições sem travestis e transexuais também é golpe”. Nas eleições de Fortaleza deste ano, por exemplo, nós temos apenas uma candidata a vereadora, a Neta. E a fala de Indianarae me leva a refletir sobre o baixo número de candidaturas de pessoas trans e também sobre a falta de investimento nas campanhas que, sem dúvidas, é algo que precariza ainda mais a nossa inserção efetiva na política.
Enfatizo: precisamos mudar as estruturas e, para isso, precisamos de travestis criando leis. As leis precisam ser feitas por nós e para nós, não mais contra nós. Precisamos usar nosso voto com sabedoria para elegermos as pessoas que de fato possam enfrentar e romper essa estrutura cis e branca ainda tão presente na política.
Então, nestas eleições, elejam travestis!
Em tempo, quero recomendar a leitura do texto Voto trans: Na urna, o futuro de nossa luta, da Bruna Benevides, que está disponível no medium dela, onde ela traz vários alertas e dicas para escolhermos bem em quem votar e como ela fala no texto “estejamos atentas ao “Pink Vote”.”

Multiartista cearense e ativista pelos direitos das pessoas trans e travestis, especialmente negras. Integrante da Associação de Travestis e Transexuais do Ceará (Atrac) e do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans).