A autora norte-americana Bell Hooks, em seu livro “Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade”, diz que a sala de aula é um “campo de possibilidades, temos a oportunidade de trabalhar pela liberdade”. É pensando a educação como uma janela de possibilidades que a ONG Bahia Street trabalha com jovens e crianças do sexo feminino de periferias de Salvador e Região Metropolitana.
A entidade completou 25 anos de atuação neste mês de fevereiro. Nasceu a partir de uma discussão sobre como a desigualdade atinge as mulheres negras feita pelas antropólogas Rita Conceição e Margareth Wilson, considerando como é a mulher negra quem menos tem acesso à educação e a oportunidades no mercado de trabalho.
O projeto nasceu com objetivo de formar lideranças de mulheres negras. Na sede própria da ONG, localizada no bairro Dois de Julho, no Centro de Salvador, essas crianças e adolescentes têm reforço escolar de todas as disciplinas oferecidas na grade curricular da escola pública.
A ONG também conta com o Programa de Alfabetização voltado para meninas que, mesmo frequentando a escola, ainda não aprenderam a ler e escrever. Pensando nos desafios do mercado de trabalho, o projeto conta com um programa de inclusão digital.
O incentivo à arte também faz parte da rotina da Bahia Street através de cursos como artes plásticas, música e capoeira, e visitas a museus, galerias de arte, cinemas e teatros. Destaque para o Coral Kolekorin (Educar cantando), formado por alunas das aulas de canto e canto clássico.
As meninas também têm aulas de oratória e aprendem sobre legislações brasileiras, através do Programa Cidadania, que ensina sobre Direitos Humanos, Lei Maria da Penha, Estatuto da Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em 2020, a ONG também incluiu o curso de filosofia na grade do projeto.
A saúde física, mental e emocional está em pauta na rotina dessas mulheres. As meninas aprendem sobre a importância da higiene corporal e da autoestima através do programa de autocuidado, que exalta a beleza dos traços negros.
Em 2019, foi implementada a formação Feminismo Negro na Infância, que amplia o debate sobre raça, classe, e gênero desde os primeiros anos de escola.
Além do trabalho com crianças e jovens do sexo feminino, a Bahia Street também faz parte da ONG Sou Digna, que tem a missão de ampliar os direitos das mulheres em situação social de vulnerabilidade em Salvador, através da profissionalização, da educação, empoderamento feminino e desenvolvimento da comunidade.
A ONG já mudou a vida de cerca de 1.500 mulheres e recebeu vários prêmios, como o “The World of Children”, do UNICEF, em 2008, e o “IvyInter-American Foundation”, em 2009. Em 2014, a Bahia Street foi contemplada com o prêmio “Lélia Gonzalez”, da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial.
O Ceará Criolo é um coletivo de comunicação de promoção da igualdade racial. Um espaço que garante à população negra afirmação positiva, visibilidade, debate inclusivo e identitário.