A Winnieteca conecta pessoas negras que precisam de livros e não têm condições de comprar com pessoas dispostas a doar. A iniciativa partiu de Winnie Bueno, doutoranda em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), ao observar as discussões suscitadas no Twitter sobre o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro de 2018. “As pessoas estavam se colocando como antirracistas e percebi que existe pouca ação e disposição contra o racismo de fato”, explica a pesquisadora.
Ela, então, resolveu propor a ideia no perfil que tinha na rede social. Usou a hashtag #TinderDosLivros, que inicialmente deu nome ao projeto. “Várias pessoas me procuraram para doar, outras para receber. Comecei a procurar quem estava disposto a comprar e a doar livros para pessoas negras”, recorda.
Winnie era responsável pelo processo de dar o “match” literário entre os usuários. “Eu pedia o nome completo, o endereço, o livro que ela queria e ia atrás de quem pudesse doar”, descreve a gaúcha.
Com as parcerias do Geledés – Instituto da Mulher Negra – e do Twitter Brasil firmadas em novembro de 2019, a Winnieteca passou a ter um perfil próprio que conta com um chatbot para lidar com os pedidos e doações. “Hoje não pedimos o endereço da pessoa, só o usuário e o livro que ela deseja. O chatbot localiza um doador e repassa as informações para ele. Depois as pessoas entram em contato entre si para organizar como vai será o recebimento desse livro”, elucida Winnie.
É a terceira vez que Andressa Andrade solicita um livro pelo projeto. Ela busca por “Memórias de Plantação”, da escritora portuguesa Grada Kilomba. A estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri (UFCA) soube da iniciativa por meio do perfil pessoal de Winnie, quando a ação ainda tinha o antigo nome.
Para a juazeirense, a relevância da Winnieteca se dá porque “muitas pessoas pretas estão pedindo livros sobre temáticas raciais, estão se aproximando mais com sua história e isso também é um autoconhecimento; acho genial.” As outras duas obras requeridas e recebidas pela cearense foram “Estarão as prisões obsoletas?”, de Angela Davis, e “Pele negra, máscaras brancas”, de Frantz Fanon.
Estudante de Biblioteconomia no Rio de Janeiro, Graziele Gomes Santos também ganhou um livro por conta da Winnieteca. Ela recebeu “Um defeito de cor”, da autora brasileira Ana Maria Gonçalves. “Foi muito emocionante, principalmente pelo momento difícil que estou passando.”
Segundo Winnie Bueno, as obras mais requisitadas são: “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis; “Interseccionalidade”, de Carla Akotirene, da coleção Feminismos Plurais; “Genocídio do Negro Brasileiro”, de Abdias Nascimento; livros da autora Bell Hooks e ficção em geral, como Harry Potter de JK Rowling.
Para a pesquisadora, é relevante poder compartilhar uma das paixões, os livros, que foram cruciais para “o meu processo de empoderamento e crescimento intelectual”, além de poder usar as redes sociais para minimizar impactos da desigualdade socioeducacional.
Winnie Bueno almeja que a iniciativa ganhe unidades físicas por todo o Brasil, onde será possível tanto doar, pedir e receber livros quanto alugá-los, como em uma biblioteca convencional.
Atualmente, o perfil da Winnieteca no Twitter tem mais de 27 mil seguidores. E Winnie garante: a ação alcança todo o país.
Estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, foi repórter no Grupo de Comunicação O Povo. Comentarista do programa Último Tempo, na webrádio Cruzamento da turma da UFC de 2017.2. É formada em balé clássico pela Escola de Ballet Janne Ruth. Gosta de ficção científica, um bom romance clichê e é apaixonada por futebol, super-heróis e arte.
1 comentário
Gostaria de participar do projeto. Quero doar livros que as pessoas precisem.
Sou de Belo Horizonte-MG
Vi a Winnie no Fly Araxá.