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Home»A você Tereza»AVC: a noite jamais amanhecida; a manhã para sempre adormecida
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A você Tereza

AVC: a noite jamais amanhecida; a manhã para sempre adormecida

Bruno de CastroBy Bruno de Castro30 de Dezembro, 2024Updated:27 de Abril, 2025Sem comentários8 Mins Read
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“O que ela tinha de partida, eu tinha de chegada.
O que eu precisava de saudade, ela precisava de refúgio.
E, assim, todo dia passou a ser de completudes,
de declarar sentimentos
e falar das coisas bonitas.”
Página 89 do livro “E, no princípio, ela veio”

Com dificuldade, a voz, gasta pelo tempo, cantava:

adeus, amor//
eu vou partir//
ouço ao longe um clarim…//

E esse era o único som ao redor. Em silêncio, nós assistíamos à cena e chorávamos. Temíamos ser aquele o começo do fim. Uma valsa da saudade, tal qual a música que mamãe se esforçava para pronunciar as palavras. Do lado de fora, apenas o ruído dos outros veículos nos interrompia. A caminho do hospital, aquela mulher de 89 anos se derramava para dentro de si. Enfermeira uma vida inteira, parecia saber o que acontecia. E, ao cantar, fez tudo soar que nem uma despedida. Um adeus daquilo que fora. Era como se soubesse que seria outra.

Era 22 de setembro de 2017, uma sexta-feira de Oxalá, e antes mesmo de chegarmos ao pronto-socorro eu já sabia o que havia acontecido. Embora tivesse conhecimentos básicos sobre o assunto, os sintomas eram evidentes para um diagnóstico e busca imediata de atendimento médico especializado: fraqueza intensa em um dos lados do corpo (o esquerdo, no caso), impossibilidade de ficar em pé, sonolência, dificuldade na fala e boca levemente torta. “A mamãe está tendo um AVC”. Foi o que eu disse tão logo a vi.

Minutos antes, eu dormia no andar de cima da casa na qual vivíamos juntos há sete anos. Estrondos na porta do meu quarto me arrancaram de um sonho bom às 6h40min para uma noite jamais amanhecida, de instantes anteriores, aquela na qual eu e uma velhinha saudável e serelepe dançávamos um forró de Luiz Gonzaga na cozinha antes de irmos para nossas camas. As batidas me lançaram também numa manhã para sempre adormecida, com a Tereza de Castro Brito, a minha Terezinha, presa num torpor que parecia eterno e sem voltar a ser a idosa funcional e independente de oito, dez horas atrás. Aquela que fora uma vida inteira.

Bum… bum… bum! A madeira gemeu. “Bruno, a Tetê não tá bem”. Neide, a cuidadora, me disse. Voz trêmula e lágrimas nos olhos. E eu desci as escadas desabalado. Alguns minutos e malas prontas depois, estávamos na emergência hospitalar. Com os resultados dos exames laboratoriais, clínicos e de imagem feitos de imediato, a médica confirmou: “sim, sua mãe teve um AVC”. A doença tinha nome e sobrenomes. “Isquêmico, unilateral, de base e extenso. Muito extenso”, informou a profissional, que sentenciou em seguida: “mas não há o que fazer neste momento a não ser esperar. Eu sinto muito”. Não sairíamos dali pelos próximos 16 dias.

Pelo fato de mamãe ter tido o AVC enquanto dormia (e, por isso, não haver como precisarmos o horário no qual ele aconteceu), foi impossível para os médicos prescreverem alguma medicação emergencial que dissolvesse o coágulo na cabeça ou o retirasse cirurgicamente. Isso só poderia ter sido feito dentro do que eles chamam de “janela terapêutica”. Ou seja: o tempo transcorrido entre o início dos sintomas e as horas imediatamente seguintes (em geral, de três a seis). Já que não sabíamos quando tudo começou, restava apenas aguardar o cérebro se recuperar do derrame, como popularmente é conhecido o Acidente Vascular Cerebral.

 

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Enquanto mamãe estava há horas desacordada no leito 16 da observação da emergência, uma médica me entregou um papel no qual estava escrito “anamnese”. Eu não sabia o que aquilo significava, assim como não fazia ideia do teor do que estava escrito abaixo. “Disartria”, “rima labial”, “deambular”, “eupnéica”, “glargow”, “dimídio”. Tudo não passava de um amontoado de palavras estranhas e que me faziam sentir muito medo do futuro. Apenas o sobrenome da médica, Brito, me era familiar. O mesmo meu. O  mesmo de mamãe.

Em seguida, três homens brancos, de jalecos brancos em uma sala branca, sem qualquer cerimônia, me bombardearam de informações. Disseram que o AVC ocorre quando o fluxo sanguíneo para o cérebro é interrompido ou muito reduzido por uma obstrução arterial, privando as células de oxigênio e nutrientes. Que é a principal causa de morte e incapacidade do mundo. Que pressão e colesterol altos são os principais vilões. Que todo ano cerca de um milhão de pessoas são internadas no Brasil por causa dessa doença. Que 85% dessas ocorrências são como as de Terezinha, “isquêmicas”, e 15% são hemorrágicas, mais graves, podendo necessitar de intervenção cirúrgica.

E disseram mais: que 90% dos derrames são preveníveis; que tem gente que leva uma vida “normal” após sofrer um; que o diagnóstico precoce e a busca por atendimento médico são fundamentais em casos de AVC, pois é uma corrida contra o tempo; que para cada minuto sem tratamento adequado o paciente perde 1,9 milhão de neurônios; e que, se ele sobreviver, isso pode causar prejuízos à fala, limitação de movimentos, impossibilidade de andar, perda de memória, dentre outros graves comprometimentos, como paralisia, rigidez dos membros, problemas na deglutição, mudança nos hábitos gastrointestinais etc. Cada paciente, por óbvio, reage de forma diferente a tudo isso, com graus diferentes de sequelas – e com algumas delas permanecendo em definitivo.

No caso de mamãe, as previsões não eram boas. Ela tinha o lado esquerdo do corpo inteiro paralisado. Em suma, os médicos anunciaram o quanto nossa vida mudaria. Revelaram como mais nada – nada mesmo – seria como antes. Porém, naquele momento, nenhuma palavra deles fez sentido. Eu era um homem negro, gay, de 30 anos, morador de periferia, assalariado pouca coisa acima do trabalhador médio e estava ali sendo confrontado com uma nova realidade. E ela era desoladora. Em um hospital imenso e frio, de tão aturdido por ver a pessoa mais importante da minha vida sem esboçar qualquer movimento, mais próxima da morte do que da vida, eu só pensava: “por que justo a mamãe, meu Deus?”.

WhatsApp Image 2024 12 30 at 06.38.55Essa dúvida e essa revolta se intensificaram nas horas seguintes, de internação, já conosco em um apartamento hospitalar, quando o neurologista não notava melhoria clínica. Passava a ponta da caneta na sola do pé esquerdo, o lado sequelado pelo derrame, para ver se ela reagia, e…quase nada. Tentava manter contato visual e sonoro com ela, e nada. Solicitava avaliações de outros profissionais da saúde e, mais uma vez, nada de recuperação. Mamãe continuava imóvel. Parecia um corpo sem vontades. Ou um corpo confinado em si. E nós permanecíamos presos no que parecia um pesadelo.

Como era possível alguém dormir saudável e acordar de outra forma? De que maneira isso podia ter acontecido com minha mãe, sempre tão diligente com a própria saúde e que 48 horas antes de sofrer o AVC havia estado em um consultório médico e ouviu elogios da geriatra ao hemograma e outros exames de rotina feitos naquele período? Era isso o que eu me questionava, sem saber ainda o quão silencioso é o derrame. E que é justamente essa característica sorrateira tão definitiva para as mais de 100 mil pessoas cuja morte se dá todo ano por causa dessa doença no Brasil.

Só em 2023, a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC) aponta que ela matou 112.052 pessoas. Este ano, até agosto, já foram 50.133 óbitos. Desde 2019, o derrame tem superado as mortes por infarto no país. Eu nunca tinha tido acesso a essas informações, mas quando mamãe adoeceu esse cenário estatístico no Brasil estava prestes a se consolidar, deixando especialistas preocupados principalmente porque muitas vítimas são jovens ou de meia idade, o que implica pensar no quanto o AVC no Brasil deixou de ser “doença de velho”. Mas mamãe tinha 89. E tudo nesta fase da vida fica por um triz.

Era aflitivo. E ficou ainda mais quando o médico, um homem rude, com cara de 45 anos, expôs, diante de mim, já no primeiro dia de internação, a tomografia de crânio na qual dava para ver a extensa área do derrame. Era como uma mancha densa sobre o cérebro. Perguntei sobre a possibilidade de mamãe ficar boa e o médico deu um risinho, como em deboche, antes de dizer: “de agora em diante, é isso aí, meu filho (e apontou pra uma Terezinha prostrada no leito). Sua mãe vai ficar em estado quase vegetativo. Ela não vai falar, não vai andar nem vai se alimentar normalmente. O prognóstico não é bom”. Disse tudo assim, a palo seco. Era, ele próprio, um deserto inteiro nos dizeres. Desligou o aparelho, deu as costas e foi embora, deixando um Bruno atônito para trás.

No dia seguinte, pouco mais de 48 horas depois do AVC, mamãe estava acordada e cantando no leito 6001.1 da enfermaria da Torre A do Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza. Fomos, assim, desavisadamente lançados em sete anos, dois meses e nove noites de abdicação, fé, medo, descobertas e reinvenções. Ali, minha mãe virou minha filha. Ali, nossas vidas foram colocadas de cabeça para baixo. E nós passamos a praticar um jeito diferente de amor.

 

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Bruno de Castro

Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.

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