Autor: Bruno de Castro

Comunicólogo e mestre em Antropologia, é especialista em Jornalismo Político e Escrita Literária e tem MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Foi repórter e editor dos jornais O Estado e O POVO, correspondente do portal Terra e colaborador do El País Brasil. Atua hoje como assessor de comunicação. Venceu o Prêmio Gandhi de Comunicação, o Prêmio MPCE de Jornalismo e o Prêmio Maria Neusa de Jornalismo, todos com reportagens sobre a população negra. No Ceará Criolo, é repórter e editor-geral de conteúdo. Escritor, foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020.

“Eu percebi que diante de mim não estava só alguém cujo tempo caminhava para o eterno. Era o meu futuro que eu encarava no colo.” Página 103 do livro “E, no princípio, ela veio” Depois de 16 dias de internação por conta do AVC e das complicações dele decorrentes, nossa volta para casa foi, ao mesmo tempo, deslumbre e desassossego. Deslumbre porque mamãe estava viva. Com muitas limitações, mas longe de um estado vegetativo. E eu, que a vi desacordada no leito 6001.1 e cheguei a desacreditar no reencontro dos nossos olhos, compreendia nossa alta hospitalar como uma chance de…

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“Vai ver a fé é isso mesmo. Uma inocência. Uma abstinência do perverso. O avesso da ruindade. Fé é o que a gente enxerga quando o mundo inteiro está cego”. Página 27 de “E, no princípio, ela veio” As sequelas do AVC de mamãe demandaram de mim ser um tanto de tudo. A impossibilidade – logística e, sobretudo, financeira – de ter profissionais da saúde 24 horas conosco ou à nossa disposição, tal qual acontecia no hospital -, me levou a observar procedimentos, tirar dúvidas e pedir orientações. Não para fazê-los por conta própria. O medo do desconhecido e a…

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“Se te oferecerem uma prece, aceite. A oração é o que de mais poderoso uma pessoa pode te dar”. Página 27 de “E, no princípio, ela veio” Tão importante quanto manter as terapias em casa é contar com cuidadores(as) de confiança. No começo, eu tentei lidar sozinho com tudo o que o AVC nos impôs. A vontade de garantir o melhor para mamãe era tamanha que me convenci de que daria conta. Pensava também que meu modo de fazer era o único a suprir todas as novas necessidades da Terezinha causadas pelo derrame. Afinal, estranho nenhum conhecia mais do que…

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“A gente começa a morrer já quando nasce. E escolher um filho – mesmo que em vez de pari-lo – é também desprenhar e é também se demorar num futuro um pouco mais comprido. O dele”. Página 104 de “E, no princípio, ela veio” Existe uma sequela do AVC sobre a qual pouco se fala e ninguém me alertou a respeito. Uma consequência que se dá não apenas sobre quem sofre o derrame. Também afeta quem está ao redor da pessoa que vive com as sequelas da doença. Com o tempo, a gente aprende, só piora: é a solidão de quem…

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“A morte de mamãe será mais um acontecimento ordinárioem um dia ordinário do resto do mundo.E escrever isso é quase querer me curar pelas palavras.Escrever é uma cura pelos dizeres”.Página 110 de “E, no princípio, ela veio” Eu soube na festa dos meus 38 anos que mamãe morreria dali a pouco. Um amigo me revelou. Preto, que nem eu, e de terreiro, ele colocou cartas para mim. E elas falaram, mesmo sem eu perguntar sobre a Terezinha. Não deram precisão de data. Revelaram apenas que estava muito perto. Era 26 de outubro de 2024 e o AVC levaria a pessoa…

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“Eu não seria mais um choro contido dali a algum instante ou dali a alguma eternidade. Seria como ela, derramada. Um choro derramado. Ouvira isso dela uma vida inteira: “no mundo, meu filho, se derrame”. Deu. Amou. Derramou”. Páginas 98 e 99 de “E, no princípio, ela veio” Mamãe morreu por complicações do AVC às 23h10min de 30 de novembro de 2024. Assim como na noite na qual sofreu o derrame, sete anos e dois meses antes, ela dormia. A respiração diminuiu, diminuiu, diminuiu, até parar de vez. Após 18 noites de muitas dores causadas pelo novo quadro cardíaco decorrente…

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